Jovem do Cariri faz história como 1ª mulher da região no Itamaraty
Cariri celebra 1ª mulher a ingressar no Itamaraty

Aos 25 anos, Shayana Sarah Andrade Mousinho escreve seu nome na história da diplomacia brasileira ao se tornar a primeira mulher nascida no Cariri a ingressar na carreira diplomática. A jovem conquistou aprovação no Concurso de Admissão à Carreira Diplomática (CACD), considerado um dos mais desafiadores do país, e em breve integrará o corpo diplomático do Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty.

Uma conquista contra as estatísticas

O caminho até a aprovação foi marcado por dedicação extrema e superação de obstáculos. Shayana enfrentou uma concorrência de aproximadamente 9 mil candidatos para apenas 50 vagas disponíveis. "Quando recebi a notícia eu não acreditei muito. Na hora, meu olho encheu de lágrima. Contei para minha mãe e para todo mundo, mas eu não estava esperando, foi uma emoção muito grande", relata a nova diplomata.

A jornada exigiu sacrifícios significativos. Formada em Direito pela Universidade Regional do Cariri (URCA), a jovem estabeleceu uma rotina de estudos de oito horas diárias durante um ano e meio. Para se dedicar ao sonho da diplomacia, precisou abrir mão de outros projetos profissionais, incluindo uma oportunidade como professora substituta na URCA em Iguatu.

Políticas de inclusão como alicerce

Shayana destaca o papel fundamental das ações afirmativas em sua trajetória. Ela ocupou a oitava posição entre os 10 cotistas negros aprovados e beneficiou-se também da cota para mulheres entre a primeira e segunda etapas do concurso. "Se não fosse por essa cota, eu não teria conseguido", afirma com convicção.

A futura diplomata reconhece que sua aprovação representa mais que uma conquista pessoal: "Quando uma pessoa entra num concurso como esse, que é altamente elitista, não deve ser considerada exceção, mas apenas um novo capítulo para que outras pessoas do Cariri, em especial mulheres negras, possam mudar a cara desse tipo de concurso".

Fé, família e raízes caririenses

A espiritualidade acompanhou toda a preparação de Shayana. Seu padrasto, Fabrício de Morais Almeida, fez uma promessa especial: percorrer a pé os 12 quilômetros que separam Crato do Horto do Padre Cícero caso a enteada fosse aprovada. Na manhã de quinta-feira (20), a promessa foi cumprida com alegria e gratidão.

Embora se mude para Brasília em dezembro, Shayana garante que levará consigo suas origens: "Eu acredito que a política interna e externa tem que ter a cara do seu povo. Não é justo que a política tenha a cara apenas das capitais. Para mim é mais que uma honra representar o Cariri".

O professor Ulisses Olinda, da URCA, celebra a conquista como inesperada e transformadora: "Ela é uma inspiração para os nossos alunos. Essa aprovação dela é inédita. É uma mulher fazendo parte de um grupo seleto que é composto geralmente por homens".

Shayana deixa um recado motivador para quem sonha alto: "Não desistam da educação e nem de seus sonhos. Só a educação salva!" - um testemunho vivo de que determinação, políticas inclusivas e identidade cultural podem abrir caminhos antes considerados inacessíveis.