Araxá completa 160 anos: da agropecuária às terras raras, a reinvenção econômica
Araxá: 160 anos e riqueza em terras raras

A cidade de Araxá, localizada no Alto Paranaíba mineiro, celebra nesta sexta-feira, 19 de abril, um marco significativo: seus 160 anos de emancipação política. Por trás da data comemorativa, há uma narrativa rica de transformações econômicas e sociais, que moldaram a identidade de um município que sempre soube se reinventar, culminando hoje em sua posição estratégica na mineração global, especialmente de nióbio e terras raras.

Das origens à emancipação: ouro, sesmarias e agropecuária

A história de Araxá começou cerca de um século antes de sua emancipação, em 1865. O polo inicial da região era o povoado de Desemboque, onde a mineração de ouro atraía centenas de pessoas no século XVIII. Contudo, entre 1770 e 1790, o metal precioso começou a rarear, levando à decadência da área.

Em busca de novas fontes de sustento, a população encontrou na região do Barreiro pastagens abundantes e águas ricas em sais minerais, ideais para a pecuária. Isso levou à demarcação da Sesmaria do Barreiro em 1785, um grande marco para o povoamento local. A historiadora Glaura Teixeira Nogueira Lima destaca que a descoberta das águas minerais no final do século XVIII atraiu criadores de gado, estabelecendo uma economia rural baseada na subsistência.

Por mais de três décadas, a agropecuária predominou, com cultivo de milho, feijão, algodão e café, além da criação de gado. A cidade também viveu um período sob a jurisdição da Província de Goiás, antes de retornar a Minas Gerais em 1816.

Reinvenções industriais e a era do turismo termal

O século XIX trouxe novas frentes econômicas. Em 1819, a produção de tecidos de algodão e lã com teares manuais ganhou força, exportando para regiões vizinhas. Com a chegada da Revolução Industrial ao Brasil, os teares mecânicos substituíram os manuais, dando início à indústria têxtil local, que dividiu a cena econômica com a agropecuária.

A abolição da escravatura, em 1888, redefiniu novamente a economia. A falta de mão de obra reduziu a produção agrícola inicialmente, mas a chegada de imigrantes europeus a partir de 1890 impulsionou o comércio e diversificou as profissões na cidade, com marceneiros, alfaiates e ferreiros.

O início do século XX viu o surgimento da indústria alimentícia, com fábricas de manteiga e queijo agregando valor à produção leiteira, e até mesmo uma indústria de sabonetes finos.

No entanto, foi entre as décadas de 1920 e 1940 que Araxá viveu uma de suas eras mais glamorosas, impulsionada pelo turismo termal. As águas do Barreiro, já conhecidas, foram alvo de estudos científicos que comprovaram seus poderes terapêuticos. A construção de hotéis e pensões transformou a cidade. O ápice foi a inauguração do Grande Hotel Termas de Araxá em 1944, um projeto monumental do arquiteto Luiz Signorelli, com jardins de Roberto Burle Marx. O hotel chegou a abrigar um cassino, que movimentou a economia até a proibição nacional dos jogos de azar em 1946.

A era da mineração: nióbio e o futuro das terras raras

A década de 1950 marcou a virada mais decisiva para a economia araxaense. O geólogo Djalma Guimarães identificou o depósito de pirocloro na região do Barreiro, determinando a presença de nióbio. Em 1955, foi fundada a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que iniciou a exploração do minério.

Hoje, Araxá é responsável por cerca de 90% da produção mundial de ferro-nióbio e detém 100% do mercado nacional. O diretor industrial da CBMM, Alexandre Reple, explica que a jazida foi formada em um antigo vulcão inativo há 100 milhões de anos. O nióbio é crucial para tornar o aço mais leve e resistente, sendo usado em setores de alta tecnologia, como aeroespacial, automotivo e em equipamentos médicos.

Mas a riqueza do subsolo não para por aí. Araxá também é fonte de fosfatos para fertilizantes e, principalmente, das cobiçadas terras raras. Este conjunto de 17 elementos químicos, como lantânio e neodímio, é essencial para a fabricação de produtos modernos: smartphones, turbinas eólicas, veículos elétricos e equipamentos de defesa.

Thiago Amaral, diretor da Saint George Mining Limited, ressalta que Araxá possui uma formação geológica única (carbonatito) que concentra esses minerais. Apesar de a China dominar o mercado global, os investimentos em pesquisa na região são promissores. Entre 2020 e 2024, a Agência Nacional de Mineração (ANM) aplicou mais de R$ 7 milhões em estudos sobre terras raras no Alto Paranaíba, sendo que 93,5% foram direcionados a Araxá.

Assim, ao completar 160 anos, Araxá carrega no seu DNA a capacidade de se transformar. De arraial do ouro a celeiro agropecuário, de estância termal a potência mineral global, a cidade escreve um novo capítulo de sua história, ancorado nos recursos estratégicos que a colocam no centro da indústria tecnológica do futuro.