Brasil na COP 30: O teste de maturidade entre produção e preservação
O Brasil se aproxima da COP 30 com uma oportunidade histórica de transformar seu discurso ambiental em liderança concreta. O evento, marcado para 2025, representa um momento decisivo para o país demonstrar sua capacidade de alinhar políticas climáticas com sua realidade produtiva, conforme análise do especialista Gustavo Diniz Junqueira.
O desafio do Plano Clima: teoria versus prática
De um lado, o governo federal tenta consolidar sua posição como potência ambiental através do Plano Clima, iniciativa que promete orientar ações de adaptação e mitigação de emissões até 2035. No entanto, o plano enfrenta críticas por manter um vício histórico: foi concebido de forma vertical, com pouca participação do setor produtivo e excessivo foco em metas punitivas.
Um plano climático verdadeiramente eficiente, segundo a análise, precisa falar a linguagem da produtividade, inovação e investimento, abandonando a burocracia e desconfiança que ainda permeiam muitas iniciativas governamentais.
Agropecuária brasileira: potencial subutilizado
O setor agrícola nacional apresenta números impressionantes que frequentemente são ignorados no debate público. Em apenas meio século, a produção de alimentos cresceu mais de quatro vezes enquanto a área cultivada aumentou pouco mais de 60%. Dois terços do território brasileiro permanecem preservados, demonstrando a viabilidade do modelo que combina produtividade e conservação.
Entre as tecnologias que impulsionaram essa evolução destacam-se:
- Integração entre agricultura e pecuária
- Plantio direto
- Bioinsumos
- Recuperação de pastagens em escala continental
Além disso, o Brasil consolida sua posição como potência energética limpa, com liderança em etanol, biogás, biometano e eletricidade de biomassa.
Da divisão à oportunidade: o caminho para a liderança global
O debate público ainda é dominado por antagonismos infrutíferos, onde parte do agronegócio vê a agenda climática como ameaça, enquanto o governo insiste em abordagens punitivas. É fundamental reconhecer que sustentabilidade não é custo, mas vantagem competitiva.
O produtor que conserva e captura carbono presta um serviço ambiental mensurável que precisa ser valorizado através de métricas claras, sistemas de certificação e instrumentos financeiros adequados. O Estado deve abandonar a linguagem do controle e adotar a da parceria.
Paralelamente, o setor produtivo precisa atualizar seu discurso. Negar a agenda ambiental significa negar o próprio futuro, especialmente quando o mercado global já precifica responsabilidade climática. A sustentabilidade se tornou tanto uma nova barreira comercial quanto um motor de crescimento.
COP 30: Palco para uma nova era
O Brasil reúne três ativos raros: base produtiva sólida, matriz energética limpa e biodiversidade abundante. Nenhum outro país possui tanto potencial para transformar economia e meio ambiente em um projeto nacional integrado.
Para concretizar essa visão, será necessário um novo pacto entre produtores, governos, investidores e sociedade civil, reconhecendo o agro como parceiro estratégico e o Estado como indutor de eficiência.
A COP 30 representa o palco ideal para essa virada de página. O mundo não espera mais promessas, mas liderança baseada em resultados. O Brasil pode demonstrá-la através de sua ciência tropical, inovação, produtividade e conservação coexistindo no mesmo território.
O futuro climático e alimentar do planeta passa inevitavelmente pelo campo brasileiro. A escolha atual é entre permanecer preso a debates ultrapassados ou assumir, com serenidade e convicção, o papel de liderança que o mundo já reconhece no país.