UE recolhe carne bovina do Brasil por hormônio proibido antes de votação do acordo Mercosul
UE recolhe carne bovina brasileira por hormônio proibido

A União Europeia determinou o recolhimento de lotes de carne bovina congelada provenientes do Brasil. A ação foi tomada após a identificação, por parte das autoridades do bloco, da presença de um hormônio cujo uso é proibido na pecuária para exportação à UE.

Detalhes do caso e comunicação entre autoridades

A porta-voz de saúde da Comissão Europeia, Eva Hrncirova, confirmou o fato na última sexta-feira, 12 de julho. Ela explicou que uma carga contendo "pequenos volumes de carne congelada" havia sido certificada de maneira incorreta para envio aos países europeus. A quantidade exata envolvida no recolhimento não foi divulgada.

Em uma nota oficial, a Missão do Brasil junto à União Europeia, órgão ligado ao Itamaraty, afirmou que as próprias autoridades sanitárias brasileiras foram quem notificaram os europeus sobre a identificação do hormônio estradiol. "Como resultado desse trabalho coordenado, as remessas afetadas foram devidamente recolhidas pelas autoridades europeias. Deve-se enfatizar que o caso em questão é uma ocorrência rara", destacou a missão.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) foi contactado para se pronunciar, mas não havia se manifestado até o fechamento desta reportagem.

Timing sensível: o acordo Mercosul-UE em jogo

A confirmação da retirada da carne do mercado europeu aconteceu em um momento particularmente delicado. O fato foi divulgado uma semana antes de uma reunião do Conselho Europeu que discutiria a adesão ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

Este tratado, negociado há anos, ainda enfrenta forte resistência de alguns países-membros, com destaque para a França. A oposição surge, principalmente, de setores do agronegócio europeu, que temem a concorrência com produtos do Mercosul, especialmente os brasileiros.

Em 2024, após uma votação simbólica sobre o acordo, parlamentares franceses chegaram a comparar a carne produzida no bloco sul-americano a "lixo", alegando que era "cheia de hormônios de crescimento e antibióticos". Na ocasião, representantes do setor pecuarista e pesquisadores brasileiros rebateram veementemente a acusação, lembrando que o uso de hormônios para promover o crescimento é expressamente proibido no Brasil.

Uso regulamentado do estradiol no Brasil

O hormônio em questão, o estradiol, é produzido naturalmente pelas vacas. Ele é o responsável por fazer com que todas as fêmeas de um rebanho entrem no cio no mesmo período. Na pecuária brasileira, sua aplicação sintética é permitida, mas apenas para fins de reprodução ou inseminação animal, nunca para estimular o crescimento.

Rondineli Pavezzi Barbero, professor de bovinocultura de corte da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), explicou em entrevista anterior que a aplicação do hormônio acontece em quantidades menores do que as produzidas pelo próprio animal.

Para garantir o cumprimento das normas, o Brasil conta com o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC). Os dados de 2023 mostram um alto nível de conformidade: 99,76% das amostras de carne analisadas estavam dentro dos padrões exigidos.

Além disso, em janeiro de 2025, a Associação Brasileira das Empresas de Auditoria e Certificação de Rastreabilidade (ABCAR) criou o Protocolo para Exportação de Fêmeas Bovinas (PEFB). Este protocolo foi desenvolvido especificamente para atender às exigências da UE, garantindo a rastreabilidade das fêmeas tratadas com estradiol e assegurando que apenas animais que nunca receberam o hormônio sejam abatidos para o mercado europeu.

A porta-voz da Comissão Europeia, Eva Hrncirova, afirmou que o bloco mantém discussões com o Brasil sobre "medidas corretivas e um plano de ação eficaz". O objetivo é que o país mantenha um sistema de certificação que esteja em total conformidade com os rigorosos padrões de segurança alimentar e saúde pública da União Europeia.