O clima nos laranjais do interior de São Paulo está mais pesado do que o habitual nesta época do ano. E não é só por causa do frio que chegou antes da hora. A ameaça de novos impostos sobre o suco de laranja brasileiro — uma das principais pautas de exportação do país — está tirando o sono dos agricultores.
"É um desespero generalizado", confessa um produtor de 52 anos que prefere não se identificar. "A gente trabalha a vida toda pra construir algo, e do nada aparece um tweet que pode acabar com tudo."
O fantasma da taxação
Rumores vindos de Washington indicam que o ex-presidente Donald Trump, caso eleito em novembro, planeja impor tarifas pesadas sobre produtos agrícolas brasileiros — com o suco de laranja na mira. O setor, que já enfrenta desafios climáticos e de custos, agora encara mais essa incerteza.
Não é exagero dizer que a laranja movimenta cidades inteiras no cinturão citrícola paulista. Segundo dados do setor:
- O Brasil responde por 76% do suco de laranja consumido no mundo
- Cerca de 1/3 da produção nacional vai para os EUA
- Mais de 200 mil empregos diretos dependem da cadeia produtiva
"Se essa bomba explodir, vai fazer um estrago dos grandes", comenta um economista especializado em comércio exterior, enquanto ajusta os óculos com ar preocupado.
Efeito dominó
O pior é que os impactos não se limitariam aos grandes exportadores. Pequenos e médios produtores — aqueles que mal acompanham as oscilações do dólar — seriam os primeiros a sentir o baque. Alguns já estão repensando investimentos planejados para a próxima safra.
Numa rua de terra batida em Bebedouro, interior paulista, um casal de agricultores divide seu temor: "A gente já vem nadando contra a corrente com os custos de insumos. Se perder o mercado americano, não sei como vai ficar."
Especialistas apontam três possíveis cenários:
- Retaliação total: tarifas acima de 20% que inviabilizariam as exportações
- Medida simbólica: pequena taxação com impacto limitado
- Blefe político: ameaça que nunca se concretiza
Enquanto isso, nos escritórios das grandes exportadoras, analistas dissecam cada declaração vinda dos EUA. "É como tentar ler chá de folha de laranjeira", brinca um deles, sem conseguir esconder a tensão.
O Ministério da Agricultura garante que está monitorando a situação, mas produtores reclamam da falta de um plano B concreto. "Não adianta só torcer pra dar certo", resmunga um veterano do setor, acendendo mais um cigarro.
