Exportações de ovos caem 42% no 3º trimestre, mas mantêm recorde histórico
Queda nas exportações de ovos do Brasil em 2025

O setor de ovos do Brasil registrou uma queda significativa nas vendas para o exterior no terceiro trimestre de 2025, embora os números ainda representem o melhor desempenho histórico para o período. Os dados, compilados e analisados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, em Piracicaba (SP), mostram um cenário de desafios para os produtores, com pressão nos custos e mudanças no mercado internacional.

Queda nas exportações e mudança de liderança

De acordo com informações da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações brasileiras de ovos in natura e processados somaram 9,46 mil toneladas entre julho e setembro de 2025. Esse volume, apesar de ser um recorde para um terceiro trimestre desde o início da série histórica em 1997, representa uma queda expressiva de 42% em relação ao trimestre anterior (abril-junho).

O principal motivo para a retração segue sendo a menor demanda dos Estados Unidos, que impuseram uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto de 2025. Com isso, os EUA, que haviam se tornado o maior comprador de ovos do Brasil em março, perderam a liderança para o Japão. Em agosto, as vendas para o mercado norte-americano caíram 60% em relação a julho, totalizando 2,13 mil toneladas.

Em contrapartida, o Japão adquiriu 578 toneladas no mesmo mês, um aumento de 29% frente a julho, assumindo a posição de principal destino. Apesar da queda trimestral, o desempenho acumulado do ano segue extremamente positivo: de janeiro a agosto, as exportações totalizaram 32,3 mil toneladas, um crescimento de 192,2% sobre o mesmo período de 2024, superando em 75% o volume exportado em todo o ano passado.

Pressão nos custos e poder de compra em queda

Enquanto o mercado externo se redefine, os produtores enfrentam dificuldades no front interno. O poder de compra do produtor de ovos do estado de São Paulo em relação ao milho, insumo fundamental na avicultura, recuou pelo terceiro mês consecutivo em novembro de 2025, atingindo o menor patamar do ano. A relação de troca com o farelo de soja também apresenta recuos em valores reais desde o início do segundo semestre.

O preço do milho voltou a subir no final de novembro, pressionado pelo aquecimento da demanda doméstica. Segundo o Indicador Esalq/Bovespa, a cotação passou de 67,52% para 70,30% entre 14 de novembro e 5 de dezembro. O Cepea atribui a alta à retomada de compras por parte de consumidores que esgotaram estoques, aliada à oferta limitada, pois os vendedores focam na semeadura da safra de verão.

Preços dos ovos em trajetória de baixa no mercado doméstico

No mercado interno, a maior oferta do produto tem mantido as cotações sob pressão. Em novembro, o preço médio do ovo branco tipo extra em Bastos (SP), maior cidade produtora do interior paulista, foi de R$ 131,48 a caixa com 30 dúzias, uma queda de 6% em relação a outubro. Já o ovo vermelho teve média mensal de R$ 144,98 na região, recuo de 5,9%.

Esse movimento de desvalorização, que se intensificou na segunda quinzena de outubro, é o segundo consecutivo. Em algumas praças, as quedas chegaram a 8% em apenas uma semana na segunda metade de novembro. O menor ritmo de vendas aumentou os estoques nas granjas, forçando os produtores a ceder nas negociações para escoar a produção.

O cenário contrasta com o início do ano, quando os preços atingiram patamares recordes, influenciados pela chamada "crise do ovo" nos Estados Unidos, que abriu uma janela de oportunidade para as exportações brasileiras antes da imposição das tarifas.

Em resumo, o setor avícola de postura navega em águas complexas no final de 2025. Apesar de um desempenho exportador anual ainda histórico, a retração trimestral e as barreiras comerciais impostas pelos EUA exigem uma readequação dos fluxos. Internamente, a combinação de custos de produção elevados, principalmente com milho, e preços finais em queda comprime a rentabilidade dos produtores, exigindo atenção aos estoques e à eficiência operacional para atravessar o período.