Uma parceria estratégica entre a Fundação IDH e o Banco do Nordeste está mudando o cenário do crédito rural para pequenos agricultores do bioma Caatinga. O acordo, firmado no âmbito do Programa Raízes da Caatinga, tem como objetivo principal reduzir uma histórica desigualdade regional no acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Um desequilíbrio histórico a ser superado
Os números revelam a dimensão do desafio. Enquanto aproximadamente 80% dos recursos do Pronaf estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste do país, apenas 4,5% dos agricultores familiares da Caatinga conseguem acessar as linhas de financiamento do programa. Esta disparidade motivou a ação conjunta das instituições, que buscam incluir produtores de territórios específicos, como o Sertão do Pajeú (PE), o Cariri Ocidental (PB) e o Sertão do Apodi (RN).
O crédito, neste contexto, é visto muito mais do que um simples empréstimo. Ele é tratado como uma ferramenta essencial para geração de renda, adaptação às mudanças climáticas e consolidação de sistemas produtivos sustentáveis no semiárido. As linhas disponibilizadas cobrem desde a compra de insumos e equipamentos até investimentos em infraestrutura e a implantação de sistemas agroflorestais.
Os CAPs: a ponte que conecta o produtor ao crédito
O coração operacional dessa estratégia são os Centros de Atendimento ao Produtor (CAPs), estruturas implementadas pela Fundação IDH. Essas unidades desempenham um papel crucial ao oferecer, de forma gratuita, assistência técnica especializada, orientação sobre documentação e apoio direto na elaboração de projetos para financiamento.
Muitas vezes, os entraves burocráticos, a falta de documentos regulares ou o desconhecimento dos requisitos são barreiras intransponíveis para o agricultor familiar. Os CAPs atuam justamente para derrubar essas barreiras, funcionando como uma interface de suporte entre o banco e o produtor rural.
Resultados concretos e impacto na vida no campo
Os efeitos práticos da iniciativa já podem ser medidos e são expressivos. Tomando como exemplo o Sertão do Apodi, no Rio Grande do Norte, os dados mostram uma transformação notável:
- Em 2023, antes da implantação do CAP, 791 agricultores acessaram o crédito rural.
- Entre 2024 e 2025, após a atuação do centro de atendimento, esse número saltou para 1.796 produtores, representando um aumento de 127%.
- No mesmo período, o volume total de recursos financiados cresceu ainda mais: de R$ 13 milhões para R$ 31,9 milhões, uma alta de 145%.
A parceria também se conecta ao Programa de Desenvolvimento Territorial (Prodeter) do Banco do Nordeste, integrando ações financeiras com trabalho territorial e suporte técnico. Além dos estados do Nordeste, os CAPs estendem sua atuação para Mato Grosso e Pará, auxiliando em processos como regularização fundiária e ambiental, essenciais para o acesso a mercados e políticas públicas.
Na ponta, histórias como a da produtora Vitória Tavares, do Sertão do Apodi, ilustram o impacto. Com orientação do CAP, ela regularizou sua documentação e conseguiu um financiamento de R$ 15 mil através do programa Agro Amigo, do Banco do Nordeste. Os recursos foram destinados a melhorias em sua propriedade e à contratação de seguro safra, trazendo mais segurança e perspectiva de crescimento.
A iniciativa, articulada desde 2021, demonstra que a combinação de instrumentos financeiros adequados com suporte técnico e presença territorial pode ser a chave para reduzir assimetrias históricas e promover um desenvolvimento mais justo e inclusivo para a agricultura familiar brasileira.