A suspensão da tarifa de importação de 40% que os Estados Unidos aplicavam sobre o café brasileiro trouxe um sopro de alívio e otimismo para os produtores de Franca, no interior de São Paulo. A medida, efetivada em 20 de novembro, encerra mais de três meses de restrições comerciais que impactaram severamente as vendas externas da região.
Impacto nas exportações e expectativa de recuperação
Para o setor, a decisão norte-americana chega em um momento crucial. Saulo de Carvalho Faleiros, vice-presidente da Cocapec (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas), avalia que a suspensão evita prejuízos maiores no fechamento do ano e abre uma perspectiva positiva para a próxima safra. "Estamos caminhando para uma safra promissora, com produtos disponíveis para o mercado. E o mercado americano é vital para nós, tanto pelo volume quanto pela diversidade de qualidades que ele compra", afirmou.
Os números ilustram a importância desse mercado: segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café), os Estados Unidos respondem por um fluxo que varia entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões anuais nas exportações brasileiras de café. Durante o período em que a tarifa elevada vigorou, o setor registrou uma queda de aproximadamente 50% no volume exportado, com projeções iniciais que chegavam a apontar uma retração de até 80%.
Casos concretos e a retomada dos negócios
O impacto foi sentido na prática nas propriedades rurais. Em uma fazenda de café orgânico de Franca, por exemplo, a previsão era exportar cerca de 3,5 mil sacas para os EUA. Com a tarifa, a produção deste ano precisou ser redirecionada para o mercado interno e para outros países, como Austrália e Japão.
Agora, o sentimento é de correr para recuperar o tempo perdido. O cafeicultor Anderson Minamihara está focado em reativar os contratos que ficaram suspensos com compradores norte-americanos. "Com alguns clientes talvez tenhamos alguma dificuldade, mas, como é uma relação de longa data, provavelmente o negócio voltará naturalmente para a nossa região", projetou.
Reflexos no preço para o consumidor brasileiro
As movimentações no mercado internacional, no entanto, devem ter consequências também nas prateleiras dos supermercados do Brasil. Especialistas avaliam que o preço do café para o consumidor final pode subir nos próximos meses.
Washington Luiz de Camargo, comerciante e especialista em café, explica que o comportamento do mercado é guiado pela oferta e demanda. "É a ponta mais preocupante, porque o consumidor acaba pagando o preço da volatilidade. O mercado subiu, mas não à toa. Houve quebra de safra, geada em 2021, secas sucessivas no Brasil e no Vietnã, os maiores produtores. A oferta e a demanda é que controlam o mercado", detalhou.
Assim, enquanto os exportadores comemoram a reabertura de um canal comercial essencial, o mercado interno se prepara para ajustes nos preços, em um cenário global complexo para a commodity.