A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabeleceu novas regras que vão transformar a forma como as empresas brasileiras abordam as mudanças climáticas em suas estratégias de negócios. A resolução determina que, a partir de 2026, as companhias listadas na B3 comecem a preparar relatórios de sustentabilidade seguindo padrões internacionais.
Novas regras para relatórios de sustentabilidade
A Resolução CVM 193, de 2023 obriga a publicação de relatórios nos padrões IFRS S1 (sustentabilidade) e S2 (clima) a partir de 2027, com base nos dados coletados durante o ano de 2026. Isso significa que já no próximo ano as empresas precisarão iniciar o processo de reunir todas as informações necessárias para a elaboração desses documentos.
O Brasil se tornou o primeiro país do mundo entre reguladores e mercados de capitais a formalizar regras de divulgação de informações financeiras seguindo os indicadores do IFRS (International Financial Reporting Standards). Esta mudança promete redefinir completamente a relação entre estratégia empresarial e ação climática no mercado brasileiro.
Empresas pioneiras já adotam as normas
Duas grandes empresas brasileiras se anteciparam à obrigatoriedade e já divulgaram seus relatórios antes do prazo estabelecido. A mineradora Vale e a varejista Renner demonstraram na prática as vantagens dessa transparência, tanto para investidores quanto para o mercado como um todo.
"Uma empresa que antecipa essas regulamentações está mostrando que está pronta para as novas exigências e demonstra um nível de maturidade muito valorizado entre os investidores", afirma Janaina Vilella, diretora de comunicação e sustentabilidade da B3.
As normas IFRS exigem uma avaliação detalhada de riscos financeiros, ambientais e sociais, além da divulgação transparente de métricas e metas. Os pilares desse novo modelo incluem governança, estratégia, gestão de riscos e resultados, facilitando a comparação entre empresas e fornecendo aos investidores elementos concretos sobre o impacto das mudanças climáticas nos negócios.
Oportunidades e riscos climáticos na prática
A experiência da Renner ilustra como as mudanças climáticas afetam diretamente os negócios. Entre os principais riscos identificados pela empresa está o fechamento temporário de lojas devido a eventos extremos, como as inundações que atingiram o Rio Grande do Sul no ano passado.
A empresa também reportou sua dependência sazonal da venda de produtos de inverno ou verão, o que a torna vulnerável a mudanças no clima e temperaturas atípicas. Um exemplo prático: o que fazer com a coleção de inverno nas lojas se houver uma onda de calor em pleno mês de julho?
Por outro lado, a empresa identificou oportunidades significativas, incluindo redução de custos com a transição energética, contratos de fornecimento de energia renovável, desenvolvimento de produtos com materiais sustentáveis e economia com estratégias avançadas de reciclagem.
Eduardo Ferlauto, diretor do Instituto Lojas Renner e de Sustentabilidade da rede varejista, explica: "Este é um relatório que muda o paradigma de valoração das empresas. Ele vem com esse objetivo, fundado a partir de uma condição de exigência do regulador, de mudar o foco do resultado financeiro para a oportunidade climática".
A B3 já possui uma plataforma digital chamada ESG Workspace para coleta, armazenamento, consulta e análise de dados ESG das empresas listadas. A plataforma reúne relatórios de sustentabilidade, índices ESG e dados sobre títulos financeiros verdes.
Relatar riscos climáticos significa não apenas identificar vulnerabilidades, mas encontrar oportunidades de inovação e valuation. A padronização dos dados facilita a criação de índices e produtos financeiros alinhados ao desempenho ambiental e social, marcando uma nova era para o mercado de capitais brasileiro.