COP30: Brasil enfrenta gargalos no agronegócio com apenas 1% de irrigação
Brasil tem agronegócio vulnerável na COP30, diz estudo

O Brasil chega à segunda semana da COP30 com ambições de liderança global em adaptação climática, mas esbarra em gargalos estruturais que comprometem a competitividade do seu setor agrícola. Um relatório recente da Systemiq aponta vulnerabilidades críticas que podem afetar o posicionamento do país como potência agroambiental.

Irrigação: o calcanhar de aquiles do agro brasileiro

O estudo revela um dado alarmante: menos de 1% da área agropecuária nacional é irrigada, apesar do potencial estimado em 55 milhões de hectares. Patricia Ellen, sócia-presidente da Systemiq, alerta que esta limitação representa um risco estratégico para a agricultura brasileira.

"A baixa cobertura de irrigação se torna um dos principais riscos de adaptação e resiliência para a agricultura brasileira", afirma a executiva. A expansão enfrenta obstáculos como disputa por água em diversas bacias, custos elevados e incertezas sobre outorgas.

Como solução, Ellen defende sistemas mais eficientes: "Para equilibrar expansão da irrigação com a escassez de água, é fundamental priorizar sistemas eficientes, combinando energia renovável com irrigação de precisão e manejo adequado."

Assistência técnica e crédito: desigualdades regionais

Outro ponto crítico identificado pelo estudo é a precariedade da assistência técnica rural. 78% das propriedades de até 100 hectares não têm acesso ao sistema, o que compromete produtividade, manejo de solo e capacidade de adaptação climática.

"Agricultores acompanhados têm de 20% a 50% mais produtividade", destaca a especialista, lembrando que a ausência de orientação técnica gera perdas diretas e maior vulnerabilidade.

A desigualdade regional no crédito rural aprofunda as fragilidades. Embora o PRONAF seja a principal política de financiamento do pequeno produtor, apenas 13% dos recursos chegam ao Nordeste, região mais exposta ao estresse hídrico.

"O desafio do PRONAF não é só ter mais recursos, e sim usar melhor o que já existe", analisa Ellen, apontando três travas centrais: documentação deficiente, baixa educação financeira e falta de assistência técnica.

Pastagens degradadas e seguro rural insuficiente

O relatório também mostra que 60% das pastagens brasileiras estão degradadas, reduzindo produtividade e ampliando custos operacionais. Analistas veem na recuperação dessas áreas o maior potencial de retorno econômico no curto prazo.

A baixa cobertura do seguro rural preocupa economistas e formuladores de políticas. A soja concentra quase 38% das apólices, enquanto alimentos básicos como arroz, feijão e café representam menos de 8%.

Projeções da FGV Agro indicam que, sem medidas robustas de adaptação, a produção de milho safrinha pode cair até 80% em 258 municípios até 2050, ampliando riscos para cadeias produtivas inteiras.

COP30 como oportunidade de transformação

O governo brasileiro vê na COP30 a chance de alavancar recursos internacionais e transformar vulnerabilidades em vitrine diplomática, reforçando a narrativa de potência agroambiental.

Especialistas alertam, porém, que o país só conseguirá sustentar esse discurso com avanços coordenados em quatro frentes:

  • Recuperação de pastagens degradadas
  • Expansão da irrigação eficiente
  • Universalização da assistência técnica
  • Redistribuição do crédito rural

Ellen defende uma integração entre financiamento e orientação: "É preciso integrar crédito e assistência técnica, garantindo que cada operação venha acompanhada de manejo de risco climático."

As medidas são consideradas urgentes para estabilizar a produção agrícola brasileira diante do aquecimento global e consolidar a posição do país como líder em adaptação climática durante a COP30.