
Cinco anos se passaram desde que o Marco Legal do Saneamento foi aprovado, prometendo revolucionar o acesso à água e esgoto no Brasil. Mas, se depender do ritmo atual, a universalização desses serviços pode ficar só no papel até 2070 — ou seja, mais 45 anos de espera. E olha que não é falta de aviso.
"É como assistir um trem descarrilhar em câmera lenta", comenta um especialista do setor, que prefere não se identificar. "Temos a legislação, temos os projetos, mas a execução patina em burocracias e disputas políticas."
O que deu errado?
Em teoria, o marco deveria atrair investimentos privados e acelerar obras. Na prática:
- Menos de 40% das cidades atingiram as metas intermediárias
- Regiões Norte e Nordeste seguem com cobertura abaixo de 30%
- Leilões de concessões acumulam adiamentos
E tem mais: enquanto São Paulo discute tecnologia de ponta para tratamento de esgoto, cerca de 35 milhões de brasileiros ainda jogam dejetos diretamente em rios — um retrato cruel da desigualdade que teima em persistir.
O jogo político atrapalha
Não é segredo que governos estaduais e municipais travam verdadeiras guerras por controle territorial. Alguns prefeitos, entre um cafezinho e outro, confessam off que "projetos de saneamento não rendem votos como asfaltamento".
Resultado? Prioridade zero na maioria das gestões. Enquanto isso, as perdas econômicas com doenças relacionadas à falta de saneamento já ultrapassam R$ 5 bilhões anuais. Uma conta que, no fim das contas, todos nós pagamos.
E agora?
Especialistas ouvidos pela reportagem sugerem três medidas urgentes:
- Simplificar licenciamentos ambientais para obras essenciais
- Criar um fundo de garantia para atrair investidores receosos
- Estabelecer metas regionais realistas com acompanhamento público
Mas, entre nós? Sem pressão popular consistente, dificilmente veremos mudanças radicais. "O brasileiro reclama mais do preço da cerveja do que da qualidade da água que chega em casa", lamenta um técnico da área, num misto de ironia e resignação.
Enquanto isso, o relógio continua correndo. E 2070 parece cada vez mais uma estimativa otimista.