Reforma Administrativa: Especialistas Alertam que Ajuste Fiscal Não Pode Ser Desculpa para Desmontar o Serviço Público
Reforma Administrativa: Ajuste Fiscal Não Pode Desmontar Serviços

O tema voltou à tona com força total e, convenhamos, é daqueles que divide opiniões na mesa do bar e nos gabinetes ministeriais. A tal da reforma administrativa, que muitos apontam como a peça que faltava no quebra-cabeça do ajuste fiscal do governo. Mas será que é por aí?

Especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil soltaram o verbo e fizerem um alerta importante: usar a tesoura dos cortes de gastos como justificativa para desmontar o serviço público é um tiro no pé – e pode sair caro para todo mundo. A discussão, que parecia técnica, é na verdade profundamente política.

Modernizar, Não Precariar

O cerne da questão é simples, mas cheio de nuances. De um lado, a incontestável necessidade de o Estado gastar melhor, de ser mais eficiente. Do outro, o risco real de se jogar a criança fora junto com a água do banho – ou seja, prejudicar serviços essenciais como saúde, educação e segurança em nome de um equilíbrio nas contas.

— Não se pode confundir ajuste fiscal com desmonte — dispara um economista, que prefere não se identificar. — A gente precisa discutir sim uma máquina pública mais enxuta e moderna, mas isso é totalmente diferente de simplesmente congelar concursos e sobrecarregar quem já está lá, trabalhando.

E ele tem um ponto. Imagina a sua repartição pública já subdimensionada, com poucos funcionários para dar conta de uma demanda que não para de crescer. Agora imagina piorar isso. O resultado? Filas mais longas, processos mais demorados e um serviço de qualidade ainda mais questionável.

O que Realmente Está em Jogo?

O plano do governo, até onde se sabe, ainda é um quebra-cabeça com peças faltando. Mas os rumores que correm em Brasília deixam muitos servidores – e usuários do serviço público – com o pé atrás.

  • Contingenciamento de verbas: O famoso ‘aperto do cinto’ que pode estrangular setores já deficitários.
  • Restrição de concursos: Uma medida de curto prazo que resolve o problema fiscal hoje, mas cria uma bomba-relógio de falta de mão de obra qualificada para amanhã.
  • Mudanças nas carreiras: A possibilidade de alterar planos de carreira e estruturas salariais, o que mexe diretamente no bolso de milhões de famílias.

Não é pouca coisa. É o tipo de decisão que pode definir o rumo do país para a próxima década.

E o Cidadão Comum nessa História?

Pois é. Enquanto o debate técnico rola solto em Brasília, o João que precisa marcar uma consulta no SUS ou a Maria que busca uma vaga na creche para o filho são os que mais sentem na pele o resultado dessa equação.

— A população não quer saber de nomes bonitos como ‘reforma administrativa’ ou ‘ajuste fiscal’ — comenta uma assistente social que trabalha em um CRAS da periferia. — Ela quer é o serviço funcionando. E se a reforma for feita sem planejamento, quem paga o pato é sempre o mais pobre.

Ela, que vive na linha de frente, vê diariamente a importância de um funcionalismo público valorizado e estruturado. “Sem os servidores, não há política pública que funcione”, arremata.

O caminho, portanto, parece ser um só: encontrar o delicado equilíbrio entre a responsabilidade fiscal – que é, de fato, indispensável – e a manutenção de um Estado que preste serviços de qualidade para a população. Uma equação complexa, que exige mais do que boas intenções. Exige diálogo, transparência e, acima de tudo, visão de futuro.

O Brasil merece mais do que um remendo novo em um pano velho. Merece uma reforma que olhe para frente.