A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos finalmente deu um passo decisivo para mudar sua trajetória de prejuízos. Após 12 trimestres consecutivos no vermelho, a nova gestão da empresa aprovou nesta quarta-feira (19) um ambicioso plano de reestruturação que promete garantir liquidez e manter seu papel estratégico como operador nacional de logística.
Três pilares para a recuperação
O plano estratégico dos Correios está estruturado em três eixos fundamentais: recuperação financeira, consolidação do modelo de negócios e crescimento estratégico. Para colocar essas diretrizes em prática, a estatal informou que deve concluir até o final de novembro a captação de R$ 20 bilhões através de um consórcio de bancos.
Segundo a empresa, as medidas foram inicialmente apresentadas pelo presidente Emannoel Rondon no início de outubro e agora receberam o aval dos conselhos da organização. Entretanto, o comunicado oficial não detalhou o funcionamento específico de cada iniciativa anunciada.
Medidas concretas para os próximos 12 meses
Nos próximos doze meses, os Correios pretendem implementar ações diretas para reverter a situação financeira crítica. Entre as principais medidas estão:
- Programa de Demissão Voluntária (PDV) para reduzir custos operacionais
- Redução de gastos com planos de saúde corporativos
- Reestruturação da rede de atendimento, com possível eliminação de até mil pontos deficitários
- Modernização da operação e da infraestrutura tecnológica
- Monetização de ativos e venda de imóveis, com potencial identificado de R$ 1,5 bilhão
- Expansão do portfólio para comércio eletrônico
- Avaliação de fusões e aquisições para reconstruir a empresa a médio prazo
Compromisso com a função pública
Apesar dos cortes e mudanças radicais, a estatal reafirma que a universalização dos serviços postais representa um compromisso estratégico e social inegociável. Mesmo registrando um déficit líquido de R$ 4,5 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025, os Correios destacam sua posição única como o único operador capaz de atender todos os municípios brasileiros, incluindo aqueles de difícil acesso.
A capilaridade da rede postal - que entrega livros didáticos, insumos eleitorais e ajuda humanitária em situações de emergência - serve como argumento central para justificar a manutenção da estatal com maior eficiência operacional.
Riscos e perspectivas futuras
A aposta da atual gestão é que a execução bem-sucedida do plano permitirá reduzir o déficit em 2026 e finalmente retornar ao lucro em 2027. No entanto, especialistas alertam para os riscos envolvidos nessa transição.
A dependência de captação de crédito no mercado, a venda de ativos em um ambiente econômico incerto e a pressão por eficiência em um setor altamente regulado - com operadores privados investindo pesado - podem tornar o desafio ainda maior do que o inicialmente projetado.
O sucesso dessa reestruturação será crucial não apenas para o futuro dos Correios, mas para toda a cadeia logística nacional que depende dos serviços postais em regiões menos atraentes comercialmente.