A Câmara Municipal de Poços de Caldas, em Minas Gerais, está exigindo explicações formais da Prefeitura sobre as alterações implementadas no sistema de estacionamento rotativo, conhecido como zona azul. As mudanças, que entraram em vigor há cerca de um mês, vão além do simples reajuste tarifário de R$ 0,10 e, na prática, têm duplicado os custos para muitos usuários.
Reclassificação de áreas e falhas operacionais
A principal mudança que impactou os motoristas foi a reclassificação de setores do rotativo. A prefeitura transformou áreas que antes tinham tarifas mais baixas em regiões de tarifa mais alta. Um exemplo citado é o do comerciante João Bosco. O local onde ele costumava estacionar foi remanejado da área 2 para a área 1. Com isso, o tempo permitido com um valor fixo caiu pela metade: com R$ 2,80, ele podia ficar duas horas; agora, apenas uma.
João Bosco questiona a falta de transparência no processo. "Como que fez um contrato que não tem nenhuma linha de negociação, uma abertura para se questionar isso? Isso não foi visto lá atrás?", indaga. Ele também relata que recebe reclamações constantes de clientes sobre outros problemas no sistema.
Além do aumento indireto do custo, a população aponta falhas crônicas no funcionamento dos parquímetros. Segundo relatos, muitos equipamentos "não funcionam desde o início". A redução no número de funcionários após a pandemia também agravou o atendimento, deixando turistas e moradores sem orientação. "O dia inteiro vem turista na porta da loja para perguntar onde paga a zona azul, como faz. Infelizmente, a gente tem que passar essa vergonha de falar que parquímetro não funciona", desabafa João.
Redução de vagas e problemas de acessibilidade
Outro ponto crítico levantado é a significativa diminuição no número total de vagas ao longo dos anos. Em um período de nove anos, o estacionamento rotativo passou de quase 4 mil para cerca de 3 mil vagas, o que dificulta encontrar um local para parar, especialmente no centro da cidade.
A situação é ainda mais complicada para pessoas com deficiência. Talita Marinho, mãe da estudante e atleta paralímpica Mel, destaca que as vagas especiais são insuficientes e, muitas vezes, mal planejadas. "Hoje nós encontramos poucas vagas no centro, e as vagas às vezes não são bem pensadas, porque precisa de uma faixa zebrada para ter amplitude, para abrir bem uma porta, para fazer um deslocamento", explica.
Posição da Câmara e resposta da administração
Diante da insatisfação geral, os vereadores protocolaram um requerimento solicitando informações detalhadas. O documento questiona quais estudos técnicos embasaram as alterações, as razões para a extinção da área 3 e os motivos da perda de aproximadamente mil vagas ao longo da última década.
Em resposta, o diretor do Departamento Municipal de Trânsito, Douglas Reis Moreira, afirmou que a reclassificação das áreas atendeu a uma solicitação da empresa concessionária do serviço e buscou o "equilíbrio econômico-financeiro" do contrato, firmado em 2016. Sobre a redução de vagas, ele argumentou que mudanças na infraestrutura viária ao longo dos anos, como a criação de vagas de embarque, desembarque, carga e descarga, além de canteiros centrais, justificam a diferença.
Quanto às vagas para pessoas com deficiência, o diretor afirmou que o município segue o percentual previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência e que está aberto ao diálogo para novas avaliações. A Câmara Municipal agora aguarda as respostas formais da Prefeitura para definir os próximos passos e encaminhamentos sobre o caso.