53 mil servidores públicos recebem acima do teto salarial no Brasil
53 mil servidores ganham acima do teto no Brasil

Brasil lidera ranking internacional de supersalários no serviço público

Um levantamento inédito revelou que 53 mil servidores públicos brasileiros recebem valores acima do teto constitucional do funcionalismo, representando o maior contingente entre países como Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido e nações da América Latina.

A pesquisa, encomendada pelo Movimento Pessoas à Frente e República.org, analisou aproximadamente 50 milhões de contracheques de 4 milhões de servidores ativos e aposentados de diversos poderes e esferas governamentais.

R$ 20 bilhões em doze meses

Os pagamentos acima do teto custaram aos cofres públicos a expressiva quantia de R$ 20 bilhões entre agosto de 2024 e julho de 2025. O estudo identificou que 1,34% do total de servidores analisados recebem valores significativamente superiores ao limite máximo estabelecido pela Constituição.

O teto salarial constitucional determina que a remuneração dos servidores públicos não pode exceder o subsídio mensal dos ministros do Supremo Tribunal Federal, atualmente fixado em R$ 46 mil. Entretanto, na prática, esse valor é ultrapassado através de benefícios como:

  • Gratificações sem limites
  • Auxílios acumulados
  • Benefícios retroativos
  • Help de custo

Distribuição dos supersalários por carreira

A magistratura concentra os maiores salários, com 21 mil juízes e desembargadores recebendo acima do teto. O Poder Executivo Federal aparece em segundo lugar, com 12 mil servidores nessa condição, seguido pelo Ministério Público, com 10 mil.

A situação se torna ainda mais preocupante quando comparada internacionalmente. Um juiz brasileiro chega a ganhar:

  • Seis vezes mais que autoridades máximas do Judiciário português
  • Quatro vezes mais que ministros de cortes constitucionais da Alemanha, França, Argentina e Estados Unidos
  • Três vezes mais que os maiores salários pagos a juízes no Chile e Colômbia
  • Mais que o dobro dos valores pagos aos presidentes dos tribunais superiores do Reino Unido, Itália e México

Impacto fiscal e social

Sergio Reis Guedes, autor da pesquisa, alerta sobre a gravidade do problema em um país que enfrenta crise fiscal: "É um dinheiro que faz falta. A gente vê notícias: 'olha, estamos precisando de R$ 12 bi para fechar orçamento da educação'. Temos R$ 20 bi aí com esse excedente".

Jessika Moreira, diretora-executiva do Movimento Pessoas à Frente, reforça que os R$ 20 bilhões gastos com supersalários comprometem o orçamento público que poderia ser destinado a áreas essenciais como educação e saúde.

Em comparação com outras dez nações, o Brasil dispara no ranking de gastos com pagamentos extrateto. Utilizando a paridade de poder de compra, o estudo mostrou que o Brasil gasta US$ 8 bilhões anualmente com supersalários, enquanto a Argentina, segunda colocada, gasta US$ 381 milhões. Alemanha não registra essa despesa.

Caminhos para solução

O deputado Pedro Paulo (PSD), autor da proposta de reforma administrativa, defende que o ponto principal é cortar os penduricalhos e trazer os salários para dentro do teto constitucional. As discussões estão sendo aceleradas para que a matéria possa ser votada no plenário até o final do ano.

O Conselho Nacional de Justiça se manifestou afirmando que o Judiciário é independente e que os tribunais administram seus próprios orçamentos. O CNJ criou um observatório para avaliar a integridade, governança e transparência do Judiciário.

O Ministério da Gestão reconheceu que é necessário enfrentar privilégios, mas destacou que essa agenda depende de diálogo e consenso político, ressaltando que os servidores acima do teto recebem parcelas de natureza indenizatória, conforme a lei.