Exército de Jesus: Sobreviventes desvendam rotina de terror em seita que prometia 'céu na Terra'
Seita "Exército de Jesus": Sobreviventes revelam abusos

Era pra ser o paraíso. Acabou num pesadelo digno de filme de terror. Os relatos que vazaram dessa seita — que se autointitulava "Exército de Jesus" — dão arrepios até no mais cético dos ouvintes.

Três sobreviventes, que conseguiram escapar do grupo, contaram ao G1 detalhes macabros da rotina num lugar que misturava fanatismo religioso com técnicas de tortura que fariam um agente da KGB corar.

"Acordávamos com gritos"

"Tinha dias que a gente acordava com os gritos dos 'irmãos' sendo 'disciplinados'", conta Luana (nome fictício), de 32 anos, que passou 5 anos no local. O tal "disciplinamento"? Chibatadas com cabos de vassoura até sangrar, segundo ela.

O grupo — que se instalou numa área rural de São Paulo — operava sob regras que faziam o regime militar parecer brincadeira de criança:

  • Proibição total de contato com o mundo exterior (nem celulares, nem cartas)
  • Casamentos arranjados pelo "líder espiritual"
  • Trabalho forçado de sol a sol nos campos
  • Punições coletivas por "pensamentos impuros"

O profeta da desgraça

No centro dessa teia de horrores, um homem que se dizia "a reencarnação de São Pedro". Ele ditava desde o cardápio das refeições até quem podia — ou não — ter filhos. "Era Deus na Terra pra gente. Até o dia que ele tentou abusar da minha filha de 14 anos", desabafa Carlos (também nome fictício), ex-membro.

O golpe de realidade veio quando uma adolescente conseguiu fugir e acionou a polícia. A operação de resgate encontrou 87 pessoas vivendo em condições análogas à escravidão. Crianças subnutridas, adultos com marcas de tortura, documentos apreendidos.

O preço do "céu"

Os relatos mostram como o grupo manipulava os fiéis:

  1. Recrutamento em igrejas evangélicas tradicionais
  2. Isolamento progressivo da família
  3. Confisco de bens e salários
  4. Doutrinação através de privação de sono

Psicólogos ouvidos pela reportagem comparam os métodos aos de seitas suicidas dos anos 90. "É o mesmo jogo de poder, só que com roupagem cristã", analisa a Dra. Fernanda Tolentino.

Agora, os sobreviventes enfrentam outro desafio: reconstruir vidas depois de anos de lavagem cerebral. "A gente perdeu tudo. Até a capacidade de tomar decisões sozinhos", lamenta Luana.