
A notícia chegou como um baque para os fiéis de Pirajuí, no interior paulista. Na madrugada deste domingo (3), o padre Fábio de Carvalho — uma das figuras mais queridas da região — partiu aos 92 anos. Quem o conheceu sabe: não foi apenas um religioso, mas um farol de esperança para gerações.
Nascido em tempos difíceis, em 1933, ele escolheu o caminho do altar ainda jovem. E que caminho! Durante décadas, transformou a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores num verdadeiro lar para os perdidos e desesperançados. "Ele tinha um jeito único de acolher", lembra Dona Marta, 78 anos, paroquiana desde os tempos de criança.
Um legado que vai além dos muros da igreja
Quem pensa que seu trabalho se limitava às missas, engana-se. Nos anos 80, quando a seca castigou o noroeste paulista, foi ele quem organizou campanhas de doação — chegou a percorrer 300 km num fusca velho para entregar alimentos. "Padre Fábio não esperava as coisas acontecerem, ele fazia acontecer", conta o prefeito em exercício, Carlos Mendonça.
Alguns detalhes marcantes de sua trajetória:
- Criou o primeiro grupo de jovens da diocese em 1967 — muitos hoje são líderes comunitários
- Mediou conflitos agrários nos anos 90, evitando violência
- Escreveu três livros sobre espiritualidade cotidiana
Os últimos anos
Apesar da idade avançada, mantinha uma lucidez impressionante. Até semana passada, ainda confessava fiéis — claro, sentado numa cadeira confortável, com sua xícara de café sempre à mão. "Meus joelhos já não são os mesmos, mas meu coração ainda bate forte pela missão", brincava em entrevista no ano passado.
A causa da morte? "Velhice mesmo", disse o médico da família, Dr. Alencar. "Ele simplesmente foi dormir e não acordou — partiu em paz, como sempre desejou."
A despedida será nesta terça-feira (5), na mesma igreja onde dedicou 58 anos de vida. O prefeito decretou luto oficial de três dias. Nas redes sociais, já pipocam homenagens — uma delas da neta de um ex-morador de rua que o padre ajudou a se reerguer nos anos 2000.
Pirajuí perde um guia espiritual. Mas ganha, eternamente, a lembrança de quem soube transformar fé em ação concreta. Como ele mesmo dizia: "Deus não nos chama para sermos perfeitos, mas para sermos presentes". E presente, ele foi.