
Imagine largar a tranquilidade de uma cidadezinha de 35 mil habitantes para se jogar na selva de pedra paulistana. Foi assim que Dsilvestre — nome artístico que carrega tanto mistério quanto potência — decidiu reescrever sua história.
Não foi só uma mudança de endereço. Foi uma revolução existencial. De um lugar onde todo mundo se cumprimenta na padaria para a megalópole onde você pode ser invisível mesmo no meio da multidão.
O funk que ninguém esperava
Se tem uma coisa que Dsilvestre detesta é rótulo. "Me chamam de funkeiro, mas meu som tem mais camadas que cebola descascada na pressa", brinca ele, entre um gole de café e olhares perdidos pela janela do apartamento minúsculo na Zona Leste.
Seu segredo? Misturar o pulsar das ruas com letras que beiram a poesia marginal. "É erotismo com diploma", define, sem pudor. As batidas pegam, mas as palavras... ah, as palavras fazem você pensar duas vezes antes de sair requebrando.
Desconstruindo a cena musical
Enquanto muitos artistas correm atrás do viral, Dsilvestre parece ter descoberto o contrafluxo:
- Usa referências de filosofia em letras de aparente simplicidade
- Transforma o corpo em metáfora política — sem discurso chato
- Respeita a inteligência de quem ouve (coisa rara hoje em dia)
"Minha mãe ainda acha que eu vou voltar pra casa e arrumar um emprego 'de verdade'", ri, mostrando os dentes desalinhados que recusam qualquer ortodontia. A família? Ah, ainda não entendeu que aquela "fase" já dura sete anos.
SP: amor e ódio na dose certa
Não foi fácil. Ninguém avisa que São Paulo te abraça e te esbofeteia no mesmo dia. "Já dormi em estúdio, já fui roubado três vezes, já pensei em desistir", conta, enquanto acende um cigarro com mãos que tremem só de lembrar.
Mas foi aqui que encontrou sua tribo. Nos saraus da periferia, nos becos escondidos da noite, nos olhares de cumplicidade de quem também escolheu viver de arte. "Paulista é assim: te ignora até você provar que vale a pena."
E ele provou. Com shows que lotam — não estádios, mas lugares com alma. Com discos independentes que circulam de mão em mão como contrabando precioso. Com uma voz que não se encaixa em nenhum molde pronto.
Dsilvestre pode até ter saído de uma cidade pequena, mas seu som? Esse já nasceu grande demais para qualquer fronteira.