Marília Mendonça e o fenômeno 'Marilionica': como a rainha da sofrência reinventou a música sertaneja antes da fama
Marília Mendonça e o fenômeno 'Marilionica'

Quem acompanhava Marília Mendonça nos bares de Goiânia antes da fama já sabia: aquela menina de voz aveludada e letras afiadas era diferente. Não à toa, criou-se o termo 'Marilionica' – uma mistura explosiva de sertanejo raiz com pop, pitadas de rock e uma autenticidade que arrancava suspiros e lágrimas na mesma música.

Enquanto o sertanejo universitário dos anos 2010 insistia em clichês sobre chifres e traições, Marília – com apenas 17 anos – já escrevia sobre relacionamentos tóxicos e independência feminina. Nada de 'mulher chorona', mas uma narrativa cheia de atitude que ressoava nas periferias e nos salões de festa.

O pulo do gato

O segredo? Letras que doíam de tão reais. Frases como 'Eu tô bem melhor sozinha, cerveja e pagode' (antes disso virar moda) ou '70 por hora na contramão' – que depois explodiria nas rádios – nasciam da observação afiada da vida alheia. Dizem que ela anotava até conversas de banheiro de balada.

  • Voz potente que dispensava afinação digital
  • Violão sempre no colo, mesmo nas festas mais badaladas
  • Letras que falavam de empoderamento sem soar panfletárias

Numa época em que produtores insistiam para ela 'suavizar' as letras, Marília respondia com mais ousadia. Resultado? Quando o sucesso veio, em 2015, ela já tinha um exército de fãs que conheciam cada música de cor – muitas delas compostas no banco de trás do carro entre um show e outro.

O legado que ficou

Hoje, dez anos depois, o tal 'estilo Marilionica' influencia uma geração. Cantoras que nem sabem da origem do termo repetem a fórmula: vulnerabilidade sem vitimismo, feminilidade sem frescura, sofrência com coluna vertebral. Coisa rara no meio musical.

E pensar que tudo começou numa Goiânia quente, entre um gole de cerveja e outro, com uma menina que preferia contar histórias reais a seguir fórmulas prontas. Faz falta.