
Não foi exatamente a festa explosiva que se esperava de um cara que literalmente compôs "All Night Long". Lionel Richie, o cavalheiro da soul music, subiu ao palco do The Town neste sábado (13) com toda a classe de um veterano que não precisa provar mais nada pra ninguém. E talvez fosse exatamente isso… talvez aquele ar de dever cumprido tenha criado uma barreira invisível entre o palco e a arquibancada.
O cenário? Impecável. Um baile black-tie que faria qualquer evento de gala corar de inveja. Richie, de terno elegante, era a peça central de um quadro sofisticado. A voz? Inconfundível, aveludada, ainda carregando aquela melancolia doce que marcou gerações. Ele entregou os hits com a precisão de um relojoeiro suíço — "Hello", "Say You, Say Me", "Easy" — cada nota no lugar exato, cada pausa calculada.
Mas e a plateia? Ah, a plateia… ficou naquele território estranho entre o respeito reverente e a hesitação. Parecia que estava assistindo a um concerto na sala de casa, de pantufas, com receio de cantar muito alto e acordar os vizinhos. Aplausos educados, sorrisos contidos, alguns vídeos gravados no celular. Faltou aquela entrega visceral, sabe? Aquela loucura que um repertório tão dançante merecia.
Não me entendam mal — tecnicamente, foi impecável. A banda afiadíssima, os vocais de apoio pontuais, o setlist um verdadeiro cartão de visitas da música popular. Mas arte não é só sobre perfeição técnica, é sobre química. E sábado à noite, a química foi mais de laboratório do que de paixão arrebatadora.
Curiosamente, os momentos mais genuínos vieram justamente quando Richie quebrou a quarta parede. Uma piada sobre envelhecer, um olhar cúmplice para quem cantou uma frase baixinho, um agradecimento que parecia vir de verdade do coração. Essas brechas de humanidade foram como raios de sol num dia nublado.
No final das contas, foi como encontrar um velho amigo: reconfortante, nostálgico, mas com a estranha sensação de que o tempo passou diferente para cada um. Lionel Richie continua sendo um mestre do seu ofício — mas talvez o público de hoje precise de algo mais do que maestria. Precisa de risco. De suor. De imperfeição.
E isso, infelizmente, estava em falta dos dois lados do palco.