
Não é todo dia que a gente esbarra num livro que consegue, de uma tacada só, mexer com a cabeça, o coração e ainda dar um nó na garganta. Mas é exatamente isso que promete o novo romance nascido nas terras quentes do Pará — uma história que, diga-se de passagem, não se contenta em ser só mais uma.
O que começa como um simples fio narrativo logo se desdobra em algo maior: uma tapeçaria de crenças populares, enigmas que atravessam gerações e aquela resistência teimosa — sabe como é? — de quem se recusa a ver sua história apagada. A Amazônia aqui não é pano de fundo, mas personagem. E das boas.
Entre rezas e segredos
O autor — um paraense da gema — parece ter colocado na escrita um pouco daquele cheiro de terra molhada depois da chuva. Tem passagem que você quase escuta o barulho do rio batendo nas pedras, ou o farfalhar das folhas quando o vento passa. E no meio disso tudo, uma trama que prende como aquelas conversas de varal, que começam com um assunto e terminam noutro completamente diferente.
"Não se trata apenas de contar uma história", comenta um crítico literário que preferiu não se identificar. "É como se o livro sussurrasse nos ouvidos do leitor os segredos que a floresta guarda há séculos."
O peso (e a leveza) das tradições
O que mais chama atenção — e aqui vou ser sincero — é como o autor consegue equilibrar temas pesados com uma prosa que às vezes flutua feito aquelas névoas matinais sobre o igarapé. Tem discussão sobre destruição ambiental, sim, mas também tem festa de santo, comidas que deixam saudade e aqueles diálogos que só quem é do Norte sabe como é.
- Personagens que parecem saídos da vida real
- Um suspense que mantém o leitor grudado até a última página
- Descrições que transformam a Amazônia em experiência sensorial
E tem mais: em vários momentos, a narrativa joga com aquela velha sabedoria dos ribeirinhos — sabe quando o mais velho conta uma história e você fica tentando decifrar o que é verdade e o que é lenda? Pois é.
Por que esse livro importa?
Num mundo onde a Amazônia vira notícia só quando queima ou quando algum político resolve discursar sobre ela, uma obra como essa — que mostra a região por dentro, com suas contradições e belezas — chega como sopro de ar fresco. Ou melhor, como aquele vento que precede a chuva grossa, trazendo alívio depois de tanto calor.
"Não é exagero dizer", arrisca uma professora de literatura da UFPA, "que estamos diante de um marco na ficção regional contemporânea". E olha que ela nem é do tipo de dar elogios fácil.
Se você cansou de histórias que tratam o Norte como exótico ou pitoresco, talvez seja hora de mergulhar nessa outra Amazônia — a que pulsa, sangra e, acima de tudo, resiste.