
Era quase impossível passar pela avenida principal de Uberlândia sem esbarrar naquele cheiro irresistível — uma mistura de banha fresca, tempero caseiro e tradição. O Bar do Cidão, ponto de encontro de políticos, artistas e trabalhadores, perdeu seu mestre. Cidão, o dono do lugar, faleceu nesta terça-feira (22), deixando um legado que vai muito além da gastronomia.
Quem nunca se sentou naquelas mesas de madeira rachada pelo tempo, enquanto o dono do lugar contava histórias entre uma fornada e outra? O homem transformou pratos simples — como o torresmo crocante que derretia na boca — em verdadeiras obras de arte. E o joelho de porco? Nem se fala. Tinha fila de madrugada só pra garantir uma porção.
Mais que um bar, um pedaço da história
O lugar — que muitos chamavam de "segunda casa" — virou referência. Não só pela comida, claro. Era o jeito acolhedor do Cidão, que lembrava o avô da gente: severo quando precisava, mas com um sorriso que acalmava até o cliente mais estressado.
"Ele tinha um segredo", contou um frequentador antigo, entre um gole de cerveja e outro. "Todas as manhãs, antes de abrir, ia pessoalmente escolher os cortes de carne. Recusava dez fornecedores até achar o que queria. Teimoso? Muito. Mas era isso que fazia a diferença."
O adeus
A notícia correu rápido. Na porta do bar, flores, velas e — como não poderia deixar de ser — um prato de torresmo, colocado ali por um cliente anônimo. "Pra viagem", brincou alguém, tentando aliviar o clima pesado com o humor ácido que o próprio Cidão adoraria.
Não vai ter velório luxuoso, nem discursos pomposos. Como ele mesmo pediu: "Quero que lembrem de mim no bar, com música alta e cerveja gelada". E assim será. O estabelecimento — agora nas mãos da família — promete manter viva a chama (e a gordura) que fizeram sua fama.
Enquanto isso, Uberlândia chora. Mas, como dizem por lá, "enquanto tiver torresmo crocante e história pra contar, o Cidão vai seguir vivo". E olha que história não vai faltar...