Acarajé do Amor gera polêmica: Associação de Baianas critica fusão inusitada com hambúrguer
Acarajé do Amor: fusão com hambúrguer gera polêmica na Bahia

Salvador está em polvorosa – e não é por causa do axé ou do carnaval. Dessa vez, a discussão veio de onde menos se esperava: a frigideira de dendê. Uma rede de hamburguerias resolveu inovar (ou seria profanar?) ao criar o tal do 'Acarajé do Amor', misturando a iguaria sagrada da culinária afro-brasileira com... hambúrguer.

Não deu outra. A Associação das Baianas de Acarajé, Mingau e Receptivos da Bahia soltou fogo nos comentários. "Isso é um desrespeito à nossa tradição", disparou Rita Santos, presidente da entidade, enquanto ajustava o torço no turbante. "Acarajé não é brinquedo de gourmetização – tem história, tem ancestralidade."

O prato que dividiu opiniões

O tal 'Acarajé do Amor' – nome que já nasceu polêmico – promete ser uma "releitura contemporânea". Na prática? Dois bolinhos de acarajé esmagados servindo como pão para um hambúrguer de picanha, com direito a queijo derretido e molho especial. Custa R$ 39,90.

Nas redes sociais, a receita virou piada e debate ao mesmo tempo:

  • "Isso aí é crime cultural!" – @baianaraiz
  • "Inovação ou heresia gastronômica?" – @chefdeplantão
  • "Pelo menos tão usando dendê de verdade..." – @comilança

Enquanto isso, na loja do Shopping da Bahia onde a iguaria híbrida foi lançada, a fila não para. "É diferente, mas tá gostoso", admitiu um cliente, entre uma mordida e outra, quase derrubando vatapá no chão.

Raízes que vão além do paladar

O que parece briga de gosto esconde camadas mais profundas. O acarajé não é só comida – é símbolo religioso do candomblé, patrimônio imaterial do Brasil desde 2005. As baianas do acarajé, com seus tabuleiros e trajes típicos, são guardiãs dessa tradição.

"A gente passa anos aprendendo os segredos do acarajé perfeito", explica Dona Maria, 72 anos e 50 de tabuleiro. "Agora chega qualquer um, esmaga a iguaria e bota hambúrguer em cima?" A indignação dela ecoa entre as colegas de ofício.

Do outro lado, os donos da hamburgueria se defendem: "Só queríamos celebrar a cultura baiana de forma criativa". Criatividade que, pelo visto, não convenceu as verdadeiras especialistas.

Enquanto a polêmica esquenta – literalmente, nas frigideiras de dendê –, uma coisa é certa: na terra de todos os santos, mexer com acarajé é assunto sério. E as baianas não abrem mão de defender o legado que carregam em suas panelas há gerações.