
Quem diria que, mais de um século depois, a velha senhora de ferro ainda teria fôlego para rugir? Pois é, a lendária locomotiva da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) — aquela que desafiava a selva e a lógica no coração da Amazônia — voltou a soltar vapor em Porto Velho, e o espetáculo foi de arrepiar.
Nesta quinta (1º), completam-se exatos 113 anos desde que os trilhos começaram a cortar o território de Rondônia, numa epopeia que misturava suor, sangue e uma pitada de loucura. E pra comemorar? Nada melhor que botar a "Maria Fumaça" pra trabalhar, como nos velhos tempos.
Um baile de época sobre os trilhos
O que você faria se visse uma relíquia de 1912 ganhando vida? Pois os sortudos que estavam lá descrevem o momento como "uma viagem no tempo". A máquina número 18, toda restaurada, avançou devagar, soltando aquela fumaceira característica — e, cá entre nós, até o cheiro de óleo queimado parecia carregar histórias.
"É emocionante ver essa peça funcionando", confessou um senhor de chapéu de couro, neto de um dos operários originais. "Meu avô contava que ela era teimosa como uma mula, mas quando pegava no tranco, ninguém segurava."
Curiosidades que você não sabia:
- A EFMM foi construída com peças trazidas da Inglaterra — imaginem o trabalhão pra montar isso no meio do mato!
- Cada dormente colocado custou, em média, uma vida. Malária, cobras e acidentes fizeram mais vítimas que muitas guerras.
- Nos anos 1930, a ferrovia transportava até 12 mil toneladas de borracha por mês. Um absurdo pra época!
E olha só que ironia: hoje, enquanto o mundo discute trens-bala, aqui celebramos justamente o contrário — a beleza do devagar, do artesanal, do que resiste ao tempo. A locomotiva não passa de 20 km/h, mas cada ranger de eixo vale por mil palavras.
Preservação contra tudo e todos
Manter esse acervo vivo não é brincadeira. Entre orçamentos curtos e a ferrugem implacável do clima amazônico, os técnicos viram verdadeiros "médicos de ferrovias". "É como cuidar de um dinossauro de metal", brincou um restaurador, mostrando as mãos marcadas por óleo e calos.
Pra piorar? Alguns parafusos especiais simplesmente não existem mais no mercado. Solução? Adaptar, improvisar e — por que não? — até fabricar peças no velho estilo "faz-se com o que tem".
Ah, e se você tá pensando que isso é só nostalgia barata, se engana. A EFMM é patrimônio nacional desde 2008, e projetos como o "Trem da História" pretendem transformá-la num polo turístico. Imagina só: passear de vagão enquanto guias contam causos da época da borracha? Melhor que aula de história!
Enquanto isso, a velha locomotiva segue lá, descansando entre uma demonstração e outra. Quem sabe, daqui a 50 anos, ainda teremos o privilégio de ouvir seu apito ecoando pelas margens do Rio Madeira...