Em uma era anterior ao GPS e às imagens de satélite, a compreensão do mundo passava pelos traços precisos de cartógrafos e desenhistas. Agora, um tesouro que guarda essa memória visual acaba de se tornar mais acessível. A Mapoteca Histórica do Itamaraty, no Rio de Janeiro, disponibilizou parte de seu valioso acervo na internet, abrindo uma janela digital para o passado.
Uma viagem no tempo através de mapas e imagens
O acervo online reúne mais de 30 mil itens, incluindo mapas, atlas, cartas náuticas, fotografias e imagens históricas que narram a transformação da cidade do Rio de Janeiro ao longo dos séculos. Pertence ao Ministério das Relações Exteriores, a coleção é fundamental para entender não apenas a formação da capital fluminense, mas do próprio Brasil.
"A mapoteca abarca todo esse repertório, começando com manuscritos do início do século XVI até cartas muito detalhadas e impressas do século XX", explica o bibliotecário Lucas Figueiredo. Entre as preciosidades está uma reprodução de 1933 baseada em um dos primeiros mapas a colocar o Rio de Janeiro no mapa mundial, original de 1513. Nesta representação, o Oceano Atlântico figura no centro, com linhas que demarcam as rotas das grandes navegações.
Da Baía de Guanabara aos ataques franceses: documentos raros
Os itens digitalizados contam histórias fascinantes em cada detalhe. Há representações da Baía de Guanabara feitas pelos primeiros exploradores, mapas com legendas em idiomas como o turco e documentos raros do século XVIII. Um mapa de 1750, por exemplo, mostra a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro durante o governo de Gomes Freire, destacando igrejas, conventos e edificações que permanecem na paisagem carioca, como o Convento de São Bento e a região da atual Praça XV.
O acervo também guarda um documento cartográfico especial que faz referência aos ataques franceses de 1711 ao Rio. Curiosamente, este esquema foi produzido pelo Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira e conhecido colecionador de mapas.
Preservação digital e o futuro do patrimônio
O complexo do Palácio Itamaraty, localizado no Centro do Rio, está atualmente fechado ao público para uma ampla revitalização, com previsão de durar mais dois anos. O projeto vai além da reforma das edificações, incluindo o tratamento de mais de 2 mil itens do acervo histórico.
Parte desse trabalho de preservação já pode ser vista online, em um catálogo ilustrado que permite observar minúcias de mapas e fotografias antigas. As imagens revelam um Rio de Janeiro muito diferente do atual:
- A Enseada de Botafogo sem avenidas largas ou edifícios altos.
- A Rua Direita, hoje Primeiro de Março, ainda trafegada por charretes.
- A antiga Avenida Central, que se tornou Avenida Rio Branco em 1912.
Para Lucas Figueiredo, a digitalização tem um propósito que ultrapassa a mera guarda da memória. "Esses mapas ajudam a compreender um território tão desafiador. A partir dessa compreensão, conseguimos projetar o Rio do futuro. Por isso é tão importante preservar e dar acesso a esse conhecimento", afirma o bibliotecário.
A iniciativa garante que pesquisadores, estudantes e o público em geral possam acessar, de qualquer lugar, fragmentos visuais da história brasileira, mantendo viva a narrativa do país contada através de suas cartografias e registros iconográficos.