BNDES investe R$ 9,9 milhões em acervos de Herzog e Glauber Rocha
BNDES destina R$ 9,9 mi para memória de Herzog e Glauber

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou um aporte de R$ 9,9 milhões em recursos não reembolsáveis para projetos que preservam a memória e a cultura nacional. O valor, proveniente do fundo cultural do banco, será dividido entre o Instituto Vladimir Herzog (IVH) e a organização Box Cultural.

Digitalização da memória democrática

Do total aprovado, R$ 7,9 milhões serão destinados ao Instituto Vladimir Herzog. O objetivo é organizar, catalogar, digitalizar e promover o acesso público a mais de 13.000 itens de três acervos distintos: o Acervo Vladimir Herzog, o Acervo Institucional do IVH e o Acervo Memórias da Ditadura.

Esses documentos cobrem um período crucial da história do Brasil, a partir de 1955, com foco especial no regime militar (1964-1985). A iniciativa ganha ainda mais simbolismo neste ano, que marca os cinquenta anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog pela ditadura, em 25 de outubro de 1975.

Todo o material será traduzido para inglês e espanhol e disponibilizado online por meio de uma plataforma digital robusta, que inclui servidores dedicados, um banco de dados unificado e um sistema de catalogação digital integrado.

Restauro de obras cinematográficas inéditas

A outra parte do investimento, no valor de R$ 2 milhões, será executada pela Box Cultural. O foco é a restauração em alta qualidade de três filmes do cineasta Glauber Rocha, realizados durante as décadas de 1960 e 1970, muitos durante seu exílio.

As obras, praticamente inéditas para o grande público, são:

  • O documentário de longa-metragem “História do Brasil” (1974).
  • Os curtas-metragens “Amazonas, Amazonas” (1966) e “Di Glauber” (1977).

A restauração seguirá o padrão 4K RGB sequencial 16 bits, que garante cópias extremamente fiéis aos negativos originais. Após o processo, os filmes serão exibidos em festivais nacionais e internacionais e integrarão a “Mostra BNDES Glauber Rocha”, na Cinemateca de São Paulo, que reunirá oito títulos do diretor.

Fortalecimento da democracia e da cultura

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou a importância estratégica do apoio. Ele afirmou que os recursos contribuem para fortalecer uma cultura de respeito à democracia e aos direitos humanos, valores que, segundo ele, estiveram sob risco no passado recente do país.

“Com o restauro das obras de Glauber Rocha, o banco ajuda a difundir e a democratizar o acesso do público à cultura e à história do cinema nacional”, completou Mercadante, conectando a preservação da memória histórica com a democratização do acesso à produção cultural brasileira.

A decisão do BNDES representa um investimento significativo na preservação de dois pilares fundamentais da identidade nacional: a luta pela redemocratização, simbolizada por Vladimir Herzog, e a ousadia do cinema brasileiro, representada por Glauber Rocha.