Histórico! Pela primeira vez, mulher trans do Amapá é coroada em festival nacional de beleza
Trans do Amapá faz história em concurso nacional de beleza

Era pra ser só mais um concurso. Mas virou um marco. Na noite de ontem, o teatro lotado em São Paulo explodiu em aplausos quando Mariana Silva, 27 anos, subiu ao palco com a faixa de vencedora do Miss Brasil Diversidade 2025. Primeira candidata transgênero do Amapá a conquistar um título nacional, ela não segurou as lágrimas — e nem a plateia.

"Quando anunciaram meu nome, parecia um sonho", conta a representante de Macapá, que deixou o júri impressionado com sua eloquência ao defender políticas públicas para a comunidade trans. "Mas sabe o que é mais surreal? Há cinco anos, eu nem conseguia sair de casa com medo da transfobia."

Um caminho de obstáculos

Não foi fácil. Filha de uma empregada doméstica e um pedreiro, Mariana enfrentou desde cedo os preconceitos típicos de uma cidade do interior do Norte. "No colégio, me chamavam pelo nome morto até eu terminar o ensino médio", revela, referindo-se ao nome de registro que não condiz com sua identidade de gênero.

Mas ela tinha um trunfo: a determinação. Aos 18, começou a transição hormonal com acompanhamento do SUS — "graças a Deus", como ela mesma diz. Trabalhou como atendente em uma loja de cosméticos até juntar dinheiro para o curso de estética. Hoje, dona de um salão especializado em cuidados para mulheres trans, virou referência na região.

O concurso que mudou tudo

O Miss Brasil Diversidade não é qualquer evento. Criado em 2022, o festival exige das candidatas muito mais que beleza: precisam apresentar projetos sociais e dominar temas como direitos humanos. Na prova de traje típico, Mariana desfilou com uma fantasia inspirada no açaí — "nosso ouro roxo", brincou —, cheia de detalhes em sementes amazônicas.

E o que vem agora? "Quero criar uma ONG para capacitar trans profissionais", adianta a nova musa, que já recebeu convites de três universidades para palestrar. Enquanto isso, as redes sociais do governo do Amapá não param de postar fotos dela com a coroa — orgulho estampado.

Uma vitória que, convenhamos, vai muito além de um concurso. É sobre resistência, visibilidade e, principalmente, sobre abrir portas. Como ela mesma finalizou no palco: "Não sou exceção. Sou a regra de que o futuro já chegou".