
Não foi só uma celebração, foi um verdadeiro encontro de almas. Na noite desta terça-feira (29), o Teatro Carlos Gomes virou palco de uma comoção coletiva — e olha que o público ali presente já estava acostumado a grandes espetáculos. Mas dessa vez, era diferente. A razão? Os 100 anos de Hélio Mendes, o maestro que colocou o Espírito Santo no mapa da música erudita brasileira.
Quem chegou cedo viu: o clima era de reencontro. Gerações de músicos que passaram pelas mãos do mestre, curiosos que só o conheciam de nome, jovens instrumentistas que estudam suas partituras até hoje — todos ali, numa mistura rara de respeito e devoção. "Parece que ele está regendo a gente de algum lugar", comentou um violinista da orquestra, entre um ajuste de afinação e outro.
O som da história
O programa? Uma viagem no tempo. Desde suas primeiras composições — aquelas que ele escrevia quase às escondidas, com medo de não estar à altura — até os arranjos ousados que desafiaram o conservadorismo musical dos anos 60. A plateia se dividia entre sorrisos saudosistas e olhos marejados, especialmente quando a soprano entoou "Canção da Despedida", última obra completa do maestro.
E não pense que foi só recital. Entre uma peça e outra, projetavam-se fotos amareladas — Hélio com o violino no colégio, Hélio discutindo partituras com Villa-Lobos, Hélio regendo com aquela expressão séria que escondia um sorriso pronto a estourar. "Ele dizia que música era feita de silêncios tanto quanto de notas", lembrou seu ex-aluno Eduardo Fonseca, agora um respeitado pianista.
O legado que não se cala
O que mais impressiona? Como um homem do interior capixaba conseguiu influenciar tanto. Sua escola de música formou gerações. Seus métodos de ensino viraram referência nacional. Até sua maneira peculiar de explicar compassos — comparando-os ao balanço das ondas — foi parar em conservatórios de outros estados.
Mas a noite reservava uma surpresa. No bis, a orquestra executou uma peça inédita, descoberta meses atrás num baú de manuscritos. "Prelúdio para um Centenário", datado de 1998, parecia prever essa homenagem. Coincidência? Quem sabe. O certo é que, quando as últimas notas se dissiparam no ar, até os músicos mais experientes precisaram enxugar os olhos.
Enquanto isso, nas redes sociais, o assunto viralizou. #Hélio100anos chegou aos trending topics — prova de que boa música, quando é genuína, não tem prazo de validade. Nas palavras de uma jovem fã: "Descobri ele por acaso no Spotify e agora entendo por que meu avô guardava os programas de concerto como tesouro".
O evento terminou, mas o eco permanece. Projetos batizados com seu nome, bolsas de estudo, até um documentário em produção — tudo indica que o segundo século de Hélio Mendes promete ser tão vibrante quanto o primeiro. Como diria o velho maestro: "Música não morre, só muda de tom".