Mestre Damasceno e Wanda Monteiro brilham como guardiões da cultura amazônica na 28ª Feira do Livro de Belém
Mestres da oralidade amazônica brilham em Belém

Numa tarde quente de agosto, quando o cheiro de castanha assada se misturava ao aroma de livros novos, Belém se rendeu aos encantos de dois tesouros vivos. Mestre Damasceno, com seus 82 anos de histórias na ponta da língua, e Wanda Monteiro, a contadora de causos que faz até as pedras rirem, roubaram a cena na 28ª Feira do Livro.

Quem passou pelo estande principal viu coisa linda. O velho mestre, com suas mãos calejadas que parecem mapas da floresta, narrando lendas que aprenderam com os ribeirinhos. E Wanda, essa força da natureza de 67 anos, transformando cada palavra num espetáculo — sem precisar de palco ou holofotes.

Oralidade que vira arte

Não foi só discurso bonito não. Os dois mostraram na prática como a tradição oral amazônica é viva, pulsante. Enquanto Damasceno contava a história do Boto com uma voz que imitava o barulho do rio, Wanda fazia o público viajar no tempo com seus causos de assombração — aqueles que a gente ouve desde criança, mas nunca cansa.

"É como se eles carregassem a Amazônia inteira na garganta", comentou uma professora que levou a turma toda para ver. E não é que ela tinha razão? Os dois são verdadeiras bibliotecas ambulantes, só que em vez de páginas, guardam sabedoria no sangue.

Feira vira ponto de encontro de gerações

O mais bonito foi ver a mistura. Crianças de escola pública sentadas no chão ao lado de acadêmicos de óculos grossos. Turistas perdidos entre as bancas e velhos conhecedores da cultura local. Todos igualmente hipnotizados.

E olha que a organização caprichou: montaram um cantinho especial com redes e tamboretes, feito aqueles quintais onde as histórias nascem de verdade. Sem frescura, sem protocolo. Do jeito que o povo gosta.

Pra quem pensa que tradição oral é coisa do passado, esses dois deram um banho. Provaram que narrativa bem contada — com direito a suspense, humor e até uns sustos — ainda é a melhor tecnologia de comunicação que existe. E o melhor: não precisa de bateria.