
O Festival de Gramado, um dos mais tradicionais do cinema nacional, virou alvo de debates acalorados nesta edição. E não foi por causa de um filme controverso ou performance exagerada — a discussão veio de onde poucos esperavam: da exibição de obras 100% criadas por algoritmos.
Parece coisa de ficção científica, mas é real. Enquanto alguns espectadores saíram das salas maravilhados com as possibilidades tecnológicas, outros deixaram o local com uma pergunta incômoda: "Isso ainda é cinema?"
Máquinas no lugar de cineastas?
Os filmes em questão — três curtas-metragens — foram gerados por plataformas de IA sem intervenção humana direta na criação das imagens ou roteiros. O resultado? Cenas que impressionam pela técnica, mas deixam aquela sensação estranha de... "tem algo faltando aqui".
"É como assistir a um sonho lúcido de um computador", brincou um crítico presente no evento, antes de completar: "Mas será que sonhos de máquina merecem premiação?"
Divisão na plateia
Enquanto isso, nas redes sociais, a polêmica ganhou proporções épicas:
- Defensores da tecnologia argumentam que a IA é apenas mais uma ferramenta criativa
- Tradicionalistas veem a iniciativa como um ataque à essência humana da arte
- Profissionais do setor temem pelo futuro de suas carreiras
E no meio disso tudo, a organização do festival parece ter subestimado o tamanho do vespeiro que estava mexendo. "Queríamos mostrar as fronteiras do cinema contemporâneo", justificou um dos curadores, em tom quase de desculpas.
O elefante na sala de projeção
O debate vai muito além de Gramado — é sobre o que define autoria artística na era digital. Se um filme nasce de prompts digitais e bancos de dados, quem merece os créditos? O "roteirista" que digitou os comandos? Os programadores que criaram o algoritmo? Ou ninguém?
Enquanto a Academia de Hollywood ainda debate como categorizar esses trabalhos, o festival brasileiro decidiu jogar gasolina na fogueira. Corajoso? Prematuro? Ou apenas buscando polêmica para ganhar holofotes?
Uma coisa é certa: depois dessa, as discussões sobre arte e tecnologia no cinema nunca mais serão as mesmas. E Gramado — querendo ou não — acabou escrevendo um novo capítulo nessa história.