Coco de Roda brilha no Festival de Folclore: companhia emociona em estreia memorável
Coco de Roda brilha em estreia no Festival de Folclore

Era pra ser só mais uma noite de agosto, mas virou algo que ninguém na plateia vai esquecer tão cedo. A companhia — que há meses ensaiava até as unhas do pé doerem — finalmente subiu ao palco do Festival de Folclore com uma homenagem ao Coco de Roda que arrancou aplausos, lágrimas e até uns "ô, meu pai!" dos mais animados.

O espetáculo, que misturou passos tradicionais com uma pitada de ousadia contemporânea, começou discreto. Mas quando a primeira roda se formou ao som dos ganzás e pandeiros, até os fiscais de cadeira balançavam os ombros. "A gente queria mostrar que cultura popular não é museu", confessou depois a diretora artística, com as costas do vestido ainda marcadas pelo suor do palco.

Do quintal para o mundo

Quem pensa que Coco de Roda é só aquela brincadeira de praia tá redondamente enganado. O grupo — formado por 22 artistas entre dançarinos, músicos e até um senhor de 73 anos que "só" bate o pé — transformou a herança cultural nordestina em narrativa visual. As saias rodadas contavam histórias, os chapéus de palha viraram personagens.

E olha que a preparação foi coisa séria:

  • 6 meses de ensaios em galpão sem ar-condicionado
  • 42 pares de tamancos destruídos
  • 1 promessa coletiva de não cortar o cabelo até a estreia

"Tem gente que acha que folclore é coisa do passado", disse o percussionista mais novo do grupo, enquanto afiava as unhas no couro do zabumba. "Mas quando a plateia começou a bater palma no ritmo, você vê que a tradição pulsa feito coração de adolescente apaixonado."

O detalhe que ninguém viu

No meio da coreografia mais complexa — aquela parte em que parecem formar um cata-vento humano — uma das dançarinas pisou fora do compasso. Sabe o que aconteceu? Virou a cena mais emocionante. As colegas improvisaram, incorporaram o "erro" e transformaram em nova sequência. "Isso que é cultura viva", comentou um professor de dança na plateia, visivelmente comovido.

Depois do espetáculo, enquanto desciam as escadas do camarim (que na verdade era um banheiro adaptado), os artistas já planejavam o próximo passo. "Queremos levar esse coco pra outros estados, quem sabe até pro exterior", sonhava alto o casal de dançarinos que se conheceu nos ensaios. Enquanto isso, na saída do teatro, grupos de espectadores ainda tentavam reproduzir os passos — alguns com mais entusiasmo que coordenação.

O festival continua até domingo, mas essa estreia já garantiu seu lugar na memória cultural da cidade. E pra quem duvidava que tradição e inovação podem dançar juntas, a companhia deu uma resposta que ecoou muito além do palco: com os pés no chão e a alma no céu.