
Quem diria que o menino de Miraí, Minas Gerais, aterrorizado com a possibilidade de seus pais descobrirem suas primeiras produções musicais no computador da família, se tornaria um dos nomes mais bombásticos da música eletrônica nacional? Pois é. Pedro Sampaio, hoje um titã dos palcos, revira os olhos e solta uma gargalhada ao lembrar da época em que escondia o que seria sua carreira.
— Meu Deus, que tempos aqueles! — exclara, entre um gole de café e outro. — Se meus pais soubessem o que eu estava aprontando no PC... acho que minha história seria outra.
Do quarto para o mundo: uma ascensão meteórica (e suada)
Nada veio de mão beijada. A trajetória de Pedro é um testemunho puro e cru de trabalho duro — e de uma pitada generosa de teimosia. Antes dos holofotes, dos hits que dominam as paradas e dos shows lotados, havia horas incontáveis gastas em frente à tela, aprendendo sozinho a arte da produção.
Ele fala dessa época com um misto de saudade e alívio. Os primeiros 500, 1000 reais ganhos com música foram, nas suas próprias palavras, "mais valiosos que qualquer cachê de hoje". Eram a prova. A confirmação de que aquela obsessão por beats e sintetizadores poderia, de fato, virar vida.
O elefante na sala: a bissexualidade e a cena musical
E então vem um tema que ele aborda com uma tranquilidade desarmante, mas que sabe da sua importância. Pedro se assume bissexual, falando sobre sua orientação sexual sem drama, mas com a seriedade de quem entende o peso da representatividade.
— A gente vive num país complexo, cheio de preconceitos, mas também cheio de amor — reflete. E ele mesmo se coloca na linha de frente dessa mudança, usando sua plataforma para normalizar existências LGBTQIA+ num ambiente, o do funk e da eletrônica, que muitas vezes ainda é marcado por uma masculinidade tradicional.
Não é um discurso ensaiado. Soa genuíno. Como uma conversa de boteco, mas com um microfone na frente.
O futuro já chegou: Pedro Sampaio e a Inteligência Artificial
E se tem um assunto que faz seus olhos brilharem — além de música, claro — é tecnologia. Especificamente, a IA. Diferente de muitos artistas que veem as ferramentas de criação por inteligência artificial como uma ameaça, Pedro as enxerga como... uma nova guitarra. Um instrumento.
— Olha, é impossível ignorar, né? — questiona, quase retoricamente. — A IA veio pra ficar. O pulo do gato é saber usá-la a seu favor, sem perder a essência, a alma que só um artista coloca na obra.
Ele prevê um futuro — que já está acontecendo, na verdade — onde produtores usarão IA para tarefas mais mecânicas, liberando tempo mental para o que realmente importa: a criatividade sem barreiras. É uma visão pragmática e, ao mesmo tempo, cheia de esperança.
The Town: o ápice de uma era
Falar sobre se apresentar no The Town, um dos maiores festivais do Brasil, é vê-lo menino outra vez. A empolgação é contagiante. Ele descreve a sensação não como um ponto final, mas como um marco monumental em uma estrada que ainda está sendo pavimentada.
É o tipo de oportunidade que valida todos os anos de struggle, todas as madrugadas em claro no estúdio. E ele sabe disso. Sabe do privilégio e carrega um peso saudável de responsabilidade — de entregar não apenas um show, mas uma experiência inesquecível para seus fãs.
Pedro Sampaio, no fim das contas, é isso: um turbilhão de talento, humildade e visão de futuro. Um artista que não tem medo de quebrar tabus, abraçar novas tecnologias e, o mais importante, ser genuinamente ele mesmo.