"Não chorei no enterro do meu pai": Dionísio Freitas desabafa e revela bastidores emocionantes da vida de repórter
Dionísio Freitas: "Não chorei no enterro do meu pai"

O microfone estava desligado, as câmeras apontadas para outro lado, mas a cena ficaria gravada para sempre na memória de Dionísio Freitas. Enquanto colegas comentavam sobre sua frieza no velório do pai, ele sabia uma verdade que poucos entendiam: às vezes, a maior dor é justamente a que não transborda.

O peso das lentes e a leveza da alma

"Você já parou pra pensar como é estranho chorar em público quando passa a vida tentando ser invisível atrás da notícia?" - pergunta Dionísio, com um sorriso meio torto que esconde décadas de histórias. Na mesa do café, os dedos dele desenham círculos invisíveis, como quem ainda busca as palavras certas.

Foram 32 anos narrando tragédias alheias. Incêndios, acidentes, crimes brutais. "A gente aprende a engolir o nó na garganta como quem toma um copo d'água", confessa. Mas quando a dor bate à sua própria porta... ah, essa é outra história.

Nos bastidores do adeus

O dia do funeral foi, nas palavras dele, "um daqueles roteiros que nem o mais criativo dos editores ousaria escrever". Enquanto parentes se debruçavam sobre o caixão, sua mente profissional insistia em registrar cada detalhe:

  • O cheiro das flores misturado ao café da capela
  • O barulho das solas dos sapatos no assoalho de madeira
  • O jeito que a luz da tarde entrava pelo vitral

"Talvez tenha sido meu último presente pra ele - contar aquela história como eu contaria qualquer outra: com os olhos bem abertos", reflete, enquanto ajusta os óculos com um movimento que já virou marca registrada.

O preço da objetividade

Não foram poucas as críticas. "Duro como pedra", murmuravam alguns. O que não viam era o turbilhão por trás daquela postura impecável:

  1. As noites em claro revirando álbuns de família
  2. As reportagens canceladas por "motivos pessoais"
  3. O caderno de anotações cheio de frases começadas e nunca terminadas

"A gente treina tanto pra não ser o personagem que, quando precisa ser, simplesmente... esquece como", desabafa, com uma honestidade que corta como faca.

E então, num daqueles momentos que só a vida sabe escrever, ele solta: "Sabe quando você segura tanto o choro que ele vira outra coisa? Pois é. O meu virou reportagem". E aí está a grande ironia - o homem que fez carreira mostrando a dor dos outros, acabou usando o mesmo ofício para esconder a sua.