
O silêncio nunca foi uma opção para Hermeto Pascoal — mas hoje, o mundo da música parece ter perdido seu volume máximo. Aos 88 anos, o bruxo dos sons partiu, deixando para trás um vácuo que nenhum instrumento poderá preencher.
Foi em sua casa, no sítio Sítio da Passagem, que o alagoano de Lagoa da Canoa respirou pela última vez. Natural causes, dizem os relatos — mas nada era convencional quando se tratava desse gênio.
O adeus dos grandes
Quando a notícia se espalhou, foi como se uma orquestra inteira tivesse parado de repente. Gilberto Gil, com aquela voz que já chorou tantas perdas, foi um dos primeiros: "Hermeto não era apenas um músico; era um fenômeno natural da criação".
E não foi só ele. Das redes sociais aos estúdios de gravação, uma sinfonia de lamento começou a ecoar. Milton Nascimento, que conhecia bem a magia hermética, simplesmente escreveu: "O universo musical perdeu seu maior alquimista".
Mais que um músico — uma força da natureza
O homem que transformou panelas, brinquedos e até sapos em instrumentos não merecia um obituário comum. Sua vida foi uma jam session permanente com o impossível.
Nascido em 1936 — sim, durante a Era Vargas —, Hermeto construiu uma carreira que desafia categorizações. Jazz? Música regional? Experimental? Tudo isso e mais um pouco. Ele era simplesmente… Hermeto.
Seu disco "O Mago", de 2017, não foi apenas um álbum — foi um testamento sonoro de alguém que nunca parou de criar, mesmo quando o corpo já pedia descanso.
O reconhecimento que demorou — mas veio
O Brasil oficial finalmente acordou para seu gênio. Em 2023, a Ordem do Mérito Cultural chegou — tarde, como sempre, mas chegou. O governo federal reconheceu o óbvio: estávamos diante de um dos maiores artistas que este país já produziu.
E Alagoas? Ah, Alagoas sabia. Sempre soube. O estado que viu nascer Graciliano Ramos e Djavan agora chora mais um de seus filhos ilustres.
O legado que não silencia
Hermeto partiu — mas deixou para trás não apenas discos, mas uma filosofia sonora. Ele nos ensinou que música está em tudo: no chiado da panela, no coaxar do sapo, no silêncio entre duas notas.
Seu corpo se foi, mas ecoará eternamente nas dezenas de artistas que influenciou e nos milhões que emocionou. Como disse certa vez o próprio bruxo: "Música é como ar — está em todo lugar, basta saber ouvir".
Hoje, o ar está um pouco mais vazio.