
O Rio de Janeiro acordou mais silencioso hoje. Marcelo Beraba, um dos nomes mais respeitados do jornalismo nacional — daqueles que fazem a diferença com caneta e coragem — partiu aos 68 anos. A notícia, como um soco no estômago, chegou sem aviso.
Não era qualquer repórter. Co-fundador da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Beraba tinha o cheiro de redação impregnado na pele. Trabalhou em veículos como Folha de S.Paulo, O Globo e Veja, mas seu legado vai além das páginas impressas.
O que faz um jornalista de verdade?
Pergunta difícil. Mas se alguém soube responder na prática, foi ele. Investigação minuciosa, apuração obsessiva — e aquela teimosia típica de quem acredita que notícia boa nasce de pergunta incômoda.
Na Abraji, ajudou a treinar gerações de repórteres. "Ensinou a pescar, não deu o peixe", lembra um colega emocionado. Os cursos de apuração viraram referência, e a entidade cresceu sob seu olhar atento.
Além das manchetes
Quem o conhecia fala de um sujeito "com humor ácido e generosidade de mestre". Nos corredores das redações, deixou lições que livros não ensinam:
- Nunca confie em press releases
- Fontes são como orquídeas — exigem paciência
- O lead perfeito não existe, mas persiga-o mesmo assim
E os bastidores? Ah, esses ele guardava com cuidado de ourives. "Cada reportagem é um segredo de polichinelo", brincava em entrevistas.
O velório acontecerá no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju. A família pede privacidade — ironia para quem dedicou a vida a revelar verdades. A causa da morte não foi divulgada, mas o que importa mesmo é o que ficou: um jornalismo mais forte porque ele existiu.
Restam as histórias. E olha, foram muitas. Como aquela vez que... Mas isso fica para outra hora. Afinal, como ele mesmo diria: "Boa reportagem nunca cabe toda na primeira edição".