
Eis que surge um filme capaz de cutucar nossas feridas mais contemporâneas - aquelas que sangram desejo, ambição e uma pitada generosa de contradição humana. Amores Materialistas, longe de ser mais um drama romântico água-com-açúcar, mergulha fundo nas complexidades afetivas da era do consumo imediato.
O que acontece quando três pessoas - nenhuma delas exatamente má, nenhuma delas inteiramente boa - se envolvem num emaranhado de paixão, conveniência e... digamos, interesses materiais? A diretora parece ter pegado nossa sociedade pelo colarinho e dado uma bela sacudida.
Personagens que Poderiam Ser Seus Vizinhos
Nada de heróis ou vilões caricatos aqui. O triângulo central é formado por:
- Um arquiteto bem-sucedido, mas emocionalmente perdido
- Sua esposa prática, que sabe exatamente o valor das coisas (e das pessoas)
- Uma jovem artista que oscila entre a ingenuidade e um cálculo surpreendente
O filme tem a coragem de mostrar o que normalmente escondemos - aqueles pensamentos meio sujos que surgem quando avaliamos um parceiro pelo saldo bancário ou pelo potencial de ascensão social. E faz isso sem julgamentos fáceis, o que é raro hoje em dia.
Mais que um Drama, Um Espelho
Em certos momentos, você quase sente vergonha alheia - não dos personagens, mas de se reconhecer em algumas de suas atitudes. A fotografia, propositalmente luxuosa, cria um contraste doloroso com as fraquezas humanas em exibição.
Numa cena particularmente incômoda (no bom sentido), os três protagonistas discutem relações amorosas enquanto dividem uma garrafa de vinho caríssima. A bebida custa mais que o aluguel mensal da maioria dos brasileiros - e essa ironia não passa despercebida.
O filme acerta ao não oferecer respostas fáceis. Como na vida real, cada personagem tem seus motivos, seus desejos ocultos e suas justificativas plausíveis. No final, fica aquela pulga atrás da orelha: será que somos tão diferentes?