
Imagine abrir uma revista ou ligar a TV e finalmente se reconhecer de verdade nas campanhas publicitárias. Pois é exatamente isso que está acontecendo — e a mudança está vindo de onde muitos não esperavam: das periferias.
A Cia de Casting, uma agência paulista, decidiu cortar o blá-blá-blá corporativo e mergulhou de cabeça na realidade das quebradas. E olha, não foi só para fazer volume de portfolio não. Eles literalmente reconstruíram todo o processo de seleção de talentos.
“A gente cansou de ver sempre os mesmos rostos, as mesmas histórias”, comenta um dos diretores, num misto de cansaço e esperança. “O mercado pedia diversidade, mas ninguém sabia muito bem como fazer.”
Não é favor, é negócio
Aqui, a jogada foi inteligente. Em vez de só incluir por incluir, a agência entendeu que a periferia não é um cardápio de carências — é um caldeirão cultural transbordando criatividade, sotaque, gingado e história.
E as marcas começaram a notar. Campanhas que antes pareciam de plástico ganharam alma. Personagens reais, com jeito, sotaque e marcas de luta — gente que você cruzaria na padaria, no ponto de ônibus, na feira livre.
Não é sobre vitimismo. É sobre potência.
O passo a passo que deu certo
- Busca ativa: Em vez de esperar currículos, a equipe vai até os territórios — saraus, batalhas de rap, grafites, rodas de samba.
- Formação horizontal: Quem chega não recebe um manual de etiqueta. Aprende na troca, no coletivo.
- Linguagem plural: Permitem que os talentos usem seu vocabulário natural, sua corporalidade, sua estética.
Uma modelo que também é passista de escola de samba. Um rapper que vira garoto-propaganda. Uma mãe de comunidade que estrela campanha de produto de limpeza — com a roupa lavada no tanque, mesmo.
E o retorno? Veio
Grandes marcas — das telecomunicações aos alimentos — começaram a aderir. A audiência respondeu melhor, o engajamento aumentou e, pasmem, as vendas também.
“Quando você se vê representado, você compra mais, você confia mais”, analisa uma pesquisadora de consumo que preferiu não ser identificada. “É humanóide, né? Ninguém quer mais se relacionar com robôs.”
Pois é. O que era diferencial virou quase obrigação. E o melhor: abriu caminho para que outros setores também repensem seus elencos — do cinema à moda, do teatro aos seriados.
No fim das contas, a lição que fica é simples: autenticidade vende. E, mais que isso, constrói pontes onde antes só havia muros.