Um casal de imigrantes congoleses viveu uma situação constrangedora ao tentar registrar o filho recém-nascido em um cartório da Grande São Paulo. O desejo de dar ao bebê um nome que homenageasse suas raízes africanas se transformou em um embate com a burocracia brasileira.
"Eu só queria escolher um nome africano para o meu filho", desabafa o pai, que preferiu não se identificar. A simples escolha cultural se tornou um processo doloroso quando funcionários do cartório questionaram repetidamente a grafia e a pronúncia do nome escolhido.
Resistência burocrática e constrangimento
O casal relata que os atendentes demonstraram estranheza ao nome de origem africana e chegaram a sugerir que optassem por algo "mais fácil" ou "mais comum" no Brasil. A insistência em manter a herança cultural resultou em um processo de registro mais demorado e cheio de obstáculos.
"Eles faziam cara feia, repetiam o nome de forma errada de propósito e claramente não queriam aceitar nossa escolha", conta o pai, visivelmente emocionado ao lembrar do episódio.
O significado por trás do nome
Na cultura congolesa, os nomes carregam significados profundos e often refletem valores familiares, características desejadas para a criança ou circunstâncias do nascimento. A escolha do nome representa uma conexão com as origens e a preservação da identidade cultural em um país estrangeiro.
Para famílias imigrantes, dar um nome tradicional aos filhos é uma forma de manter viva a herança africana e garantir que as novas gerações não percam completamente o vínculo com suas raízes.
Racismo estrutural na burocracia
Especialistas em direito racial apontam que casos como este revelam o racismo estrutural presente nas instituições brasileiras. A resistência a nomes africanos reflete um preconceito velado que precisa ser combatido.
A legislação brasileira garante o direito à escolha do nome, desde que não exponha a criança ao ridículo. Nomes de origem africana, quando corretamente grafados, são plenamente aceitáveis e devem ser respeitados pelos cartórios.
Orientações para situações similares
- Conheça seus direitos: a escolha do nome é livre, desde que não seja vexatória
- Leve a grafia correta por escrito para evitar "erros" de interpretação
- Em caso de resistência, peça para falar com o oficial responsável
- Se necessário, busque orientação jurídica ou de defensoria pública
- Registre o ocorrido por escrito para eventual denúncia
O caso do casal congolês serve como alerta para a necessidade de capacitação dos funcionários de cartórios sobre diversidade cultural e combate ao racismo. A burocracia não pode ser uma barreira para a expressão da identidade cultural.