
Uberlândia perdeu hoje uma de suas mentes mais brilhantes. Lídia Maria Meirelles, aos 78 anos, deixou um vazio impossível de medir — não só na cidade, mas em todo o cenário cultural brasileiro.
Quem teve o privilégio de conhecê-la sabe: aquela mulher baixinha, de cabelos grisalhos sempre presos num coque desleixado, carregava uma energia que podia iluminar salas inteiras. E não, não é exagero.
Uma vida dedicada à cultura
Nos anos 90, quando assumiu a Secretaria Municipal de Cultura, Lídia transformou o cargo burocrático numa verdadeira revolução. "Cultura não é enfeite", costumava dizer, enquanto lutava por orçamentos melhores com uma teimosia que deixava políticos de cabelo em pé.
Mas foi no Museu dos Povos Indígenas que seu trabalho realmente floresceu. Sob sua coordenação, o local deixou de ser um "depósito de coisas velhas" (como ela mesma zombava) para se tornar um espaço vivo, pulsante. As exposições passaram a contar histórias — não só dos objetos, mas das mãos que os criaram.
O legado que fica
Numa época em que poucos falavam sobre diversidade cultural, Lídia já trazia anciãos indígenas para conversar com estudantes. "Ela tinha um jeito único de fazer pontes", lembra a ex-estagiária Mariana Torres, hoje professora universitária. "Nos ensinou que museu é lugar de diálogo, não de monólogo."
Fora do trabalho? Ah, essa mulher era um espetáculo à parte. Adorava um cafezinho coado no pano, detestava tecnologia ("malditos celulares!") e colecionava histórias como outras pessoas colecionam selos. Cada anedota, uma aula disfarçada.
A causa da morte não foi divulgada — e francamente, quem se importa? O que vale mesmo é lembrar como viveu. Intensa, apaixonada, às vezes rabugenta (ninguém é perfeito), mas sempre, sempre generosa com seu conhecimento.
O velório acontecerá no Cemitério Municipal, mas seu verdadeiro memorial está espalhado pela cidade: nas políticas culturais que ajudou a criar, nas gerações que inspirou e, claro, naquele museu que tanto amou — hoje um pouco mais silencioso sem sua risada estridente ecoando pelos corredores.