
Não é todo dia que uma obra literária ganha asas no palco e consegue, de quebra, tocar a alma do público. Mas parece que Torto Arado, adaptação teatral do best-seller de Itamar Vieira Junior, acertou em cheio. Quem diz isso é ninguém menos que o diretor da peça, em um papo franco que tivemos recentemente.
"O brasileiro tá cansado de importar cultura como se fosse mercadoria de segunda mão", soltou o diretor, entre um gole de café e outro. E não é que ele tem razão? Nos últimos meses, as plateias têm lotado os teatros não por modinha, mas por uma ânsia genuína de se reconhecer nas histórias contadas.
Raízes que falam alto
O que faz Torto Arado bater tão forte? Pra começar, a narrativa mergulha fundo na realidade rural brasileira - aquela que a gente vê pela janela do ônibus, mas raramente no palco. "Tem uma cena em particular", conta o diretor, "que mostra o protagonista lavrando a terra com as próprias mãos. Você ouve o público suspirar, como se cada um estivesse revivendo memórias de família".
E não para por aí:
- O elenco traz sotaques de verdade, não aquela dicção de novela das oito
- Os figurinos parecem ter saído diretamente do baú das avós do interior
- Até o cheiro de terra molhada (sim, usam aromatizador) transporta o público
Numa era de streaming e efeitos especiais, quem diria que seria a simplicidade - bem executada - a roubar a cena?
O segredo está nos detalhes
O diretor revelou um dado curioso: cerca de 40% do público volta para assistir pela segunda ou terceira vez. "Eles dizem que descobrem novas camadas a cada apresentação", comenta, visivelmente emocionado. Parece que finalmente encontramos uma peça que trata o espectador como adulto - capaz de captar nuances e simbolismos.
E você, já parou pra pensar por que algumas histórias nos pegam pelo colarinho enquanto outras escorregam como água na telha? O caso de Torto Arado sugere que, no fundo, todos queremos um espelho que mostre não só nosso rosto, mas nossa essência.