
Era uma tarde qualquer em São Jerônimo quando ele apareceu - magricela, o pelo meio arrepiado, aqueles olhos que pareciam saber coisas. Robson, como acabaram batizando, não chegou com pompa. Chegou como quem não quer nada, farejando restos perto do mercadinho da esquina.
Quem diria que aquele vira-lata sem pedigree ia virar o xodó da cidade inteira? Pois é... Em menos tempo que você leva pra assar um pão de queijo, o bicho já tinha conquistado todo mundo. "Ele tem jeito de gente", diz Dona Marta, 72 anos, que toda manhã separa um pedaço de pão pra ele.
De mendigo a mascote
O negócio foi tão natural que ninguém percebeu quando aconteceu. Primeiro foi o pessoal do bar que começou a deixar água fresca. Depois a turma da padaria passou a guardar ossos. A escola municipal arranjou uma caminha velha. Até que... Bem, até que Robson deixou de ser "aquele cachorro de rua" pra ser "nosso cachorro".
"Tem dia que ele aparece aqui na prefeitura", conta o secretário de obras, rindo. "Fica deitado no meu pé enquanto trabalho. Melhor que terapeuta."
Vacina, castração e muito mimo
Quando viram que a coisa era séria, os moradores se organizaram:
- Fizeram vaquinha pra vacinar e castrar
- Criaram um rodízio de banhos no petshop
- Combinaram horários pra alimentação
"É engraçado", reflete a veterinária Dra. Cláudia. "Normalmente a gente vê abandonos. Essa história é o contrário - todo mundo querendo cuidar."
Não pense que Robson é só um aproveitador. Tem seus deveres também - acompanha as crianças até a escola, late quando vê coisa estranha, e já até "ajudou" a achar uma senhora desorientada (isso rendeu biscoitos por uma semana).
Lição de empatia
O que começou como simples compaixão por um animal virou algo maior. Professores usam a história nas aulas, o comércio local vende camisetas com a cara dele, e turistas às vezes perguntam pelo "cachorro famoso".
"Robson nos uniu", diz uma adolescente que organizou um abaixo-assinado pra ele ser mascote oficial da cidade. "Mostra que às vezes as melhores coisas chegam sem avisar."
Enquanto isso, o protagonista dessa história - agora com peso saudável e coleira colorida - continua sua rotina real. De tarde, costuma escolher entre tirar uma soneca na praça ou acompanhar o carteiro. Decisões difíceis para um vira-lata que, sem querer, virou símbolo de como pequenos gestos podem transformar vidas.