
Ela estava ali, praticamente sem forças, presa numa armadilha subaquática que não deveria existir. A cena é de cortar o coração: uma toninha, esse cetáceo pequeno e tímido que é praticamente um símbolo do nosso litoral, lutando contra a própria morte após se enroscar em redes de pesca.
O resgate aconteceu nesta segunda-feira (16), mas a história poderia ter terminado de forma trágica. Por sorte – muita sorte, diga-se –, pescadores avistaram o animal em apuros nas águas de Laguna, no sul catarinense. Não pensaram duas vezes: acionaram imediatamente a equipe do Projeto Toninhas.
E o que era para ser mais um dia de trabalho transformou-se numa corrida contra o tempo. Biólogos e veterinários chegaram ao local e encontraram a toninha com sinais claros de afogamento. Sim, afogamento. O bicho quase morreu asfixiado porque não conseguia mais emergir para respirar. As redes simplesmente o mantinham preso no fundo.
Não é a primeira vez. Infelizmente, não será a última.
Esse tipo de incidente é mais comum do que a gente imagina. As redes de emalhe, usadas por muitos pescadores, são praticamente uma sentença de morte para toninhas, golfinhos e outros animais marinhos. Eles não veem o perigo, nadam direto para a armadilha e, quando percebem, já é tarde demais.
O animal resgatado foi levado ás pressas para um centro de reabilitação. Lá, recebeu os primeiros socorros e agora está sendo monitorado 24 horas por dia. Seu estado ainda é considerado grave. Mas, ei, pelo menos ele tem uma chance. Diferente de tantos outros que morrem sem que ninguém veja.
— A situação é crítica — admitiu um dos biólogos, que preferiu não se identificar. — Ele está muito debilitado. Cada minuto conta.
Um problema que vai além de um único animal
O que aconteceu com essa toninha não é um incidente isolado. É sintoma de um problema ambiental sério, que muitas vezes é ignorado. A pesca incidental, como é tecnicamente chamada, mata milhares de animais marinhos todos os anos no Brasil.
E as toninhas estão entre as espécies mais ameaçadas. São pequenas, frágeis e vivem justamente nas regiões mais pressionadas pela atividade pesqueira. Não é à toa que estão na lista dos animais em perigo crítico de extinção.
O trabalho de organizações como o Projeto Toninhas é vital. Eles não só resgatam animais em perigo, mas também desenvolvem pesquisas para entender melhor o comportamento desses cetáceos e buscar alternativas para reduzir os conflitos com a pesca.
Mas, convenhamos, é uma luta desigual. De um lado, a sobrevivência de uma espécie inteira. Do outro, interesses econômicos e uma falta crônica de fiscalização.
Será que vamos esperar sumirem de vez para agir?
Enquanto isso, a toninha resgatada luta pela vida. Uma vida que, assim como a de tantos outros, depende cada vez mais da consciência e da ação humana.