
Era para ser mais um dia comum na vida de Lucas, um garoto de 20 anos que respirava futebol. Mas o destino — cruel e impiedoso — decidiu outra coisa. Na noite de domingo, enquanto voltava para casa depois de treinar no campinho do bairro, ele foi abordado por criminosos. Queriam o celular, a carteira, qualquer coisa. Lucas resistiu. E pagou com a vida.
O que dói mais, além da perda absurda? Saber que ele tinha um sonho tão palpável, tão perto. "Desde os 12 anos, ele só falava em ser goleiro", conta o tio, voz embargada. "Treinava até de madrugada, no quintal de casa, com uma luva surrada que ganhou do primo."
O sonho que virou luto
Não era só fantasia de adolescente. Lucas já havia feito testes em times pequenos da região e até recebido elogios de olheiros. "Ele tinha reflexo rápido, era destemido — igual aquele goleiro do Flamengo, sabe?", lembra um amigo de peladas, antes de engolir seco.
O que restou? Uma camisa número 1 pendurada no quarto vazio. Chuteiras encostadas num canto, ainda sujas de barro. E uma família que não entende como a cidade — essa mesma que produz tantos craques — também mata seus sonhos a sangue frio.
O outro lado da moeda
Enquanto isso, na delegacia, o caso vira mais um número. "Roubo seguido de morte", diz o boletim, mecânico. Dois suspeitos foram presos — menores, como quase sempre. A arma? Uma velha .38, dessas que circulam feito bala de doce nas mãos erradas.
E aí você pensa: quantos Lucases precisam morrer antes que alguém acorde? Quantos gols fantasma vão ser defendidos por esses meninos que viram estatística antes da carteira de trabalho?
No velório, um detalhe cortou o coração de todo mundo. Alguém colocou um par de luvas de goleiro — novinhas, daquelas com dedo recurvado — em cima do caixão. Era o presente de aniversário que ele nunca receberia. Faria 21 anos em setembro.