
Era uma noite como qualquer outra no bairro tranquilo de Patos de Minas — até que os altos falantes começaram a tremer as paredes. Maria das Dores, 52 anos, costureira conhecida por seu sorriso fácil, bateu na porta da vizinha pela terceira vez. "Pelo amor de Deus, são 3h da manhã!", teria dito. Ninguém imaginava que esse seria seu último protesto.
Segundo testemunhas — e aqui o depoimento fica truncado, cheio de pausas e vozes embargadas — a dona da festa respondeu com xingamentos antes de desaparecer dentro de casa. Dois minutos depois, quatro tiros ecoaram na rua deserta. "Parecia rojão, a gente nem acreditou...", conta um morador que pede anonimato, ainda com as mãos trêmulas.
O que levou a essa explosão de violência?
A polícia trabalha com três hipóteses principais:
- Histórico de conflitos não resolvidos (aquelas pequenas irritações diárias que vão virando pólvora)
- Possível influência de álcool — garrafas de cerveja e uma garrafa de cachaça vazia foram encontradas no local
- Falta de mediação comunitária (o bairro não tem associação de moradores há dois anos)
O delegado responsável pelo caso, em entrevista cheia de pausas calculadas, adiantou: "Temos imagens de câmeras que vão ajudar, mas já posso dizer que foi um crime passional no sentido amplo — paixão por desrespeito, por soberba".
Enquanto isso, na casa humilde onde Maria criava sozinha os dois netos, o silêncio agora é ensurdecedor. A máquina de costura parada, a xícara de café pela metade. Vizinhos se revezam para levar comida, mas o que se ouve são frases soltas: "Ela só queria dormir...", "Nunca meteu o nariz onde não devia...".
E a vizinha?
Presa em flagrante, alegou "legítima defesa da própria festa" — argumento que fez até o advogado plantonista revirar os olhos. A defesa prepara um novo depoimento, mas o Ministério Público já fala em feminicídio qualificado.
No bairro, resta a pergunta que não quer calar: quantos conflitos como esse estão prestes a explodir por aí, alimentados por noites mal dormidas e orgulhos feridos? Enquanto as autoridades discutem leis e processos, a máquina de costura de Maria continua parada — e desta vez, não é por falta de linha.