
Era pra ser mais um dia de sol e mar na Baixada Santista, mas o que começou como rotina virou pesadelo. A câmera acoplada ao uniforme de um PM — aquelas que deveriam trazer transparência — captou cenas que agora são peça central num quebra-cabeça macabro. Cinco vidas perdidas, incluindo a de um homem que, segundo testemunhas, sequer portava arma.
O vídeo, obtido com exclusividade pela nossa reportagem, mostra o exato instante em que a operação de rotina descarrilhou. Dois suspeitos correm entre carros estacionados na Praia do Gonzaga, enquanto os policiais gritam ordens contraditórias. E então... o estampido. Não, foram vários. Uma sequência rápida, seca, que ecoou entre os prédios de frente para o mar.
"Ele só tava indo comprar pão"
A frase, dita entre soluços pela esposa de uma das vítimas, resume o que pode ser mais um capítulo sombrio da segurança pública. Carlos, 54 anos (o sobrenome a família pediu pra não divulgar), tinha histórico de pequenos furtos na adolescência, mas vizinhos garantem que hoje "mal brigava com a sombra".
O que a câmera mostra:
- 16h23: Equipe da PM aborda grupo próximo ao canal 3
- 16h25: Dois homens levantam as mãos; um terceiro começa a correr
- 16h25:03 - Primeiros disparos
- 16h26: Homem de camisa vermelha (Carlos) cai próximo a quiosque
"Tem coisa que não fecha", murmura o delegado responsável pelo caso, enquanto revisa as imagens pela décima vez. Os PMs alegam ter visto uma arma — que até agora não apareceu. Já os frequentadores do calçadão juram que Carlos apenas "se assustou com os tiros e tropeçou".
O verão que virou inverno
Enquanto isso, na delegacia, a mãe de outro envolvido — menor de idade — espera sentada num banco de plástico azul, desses que grudam na perna no calor. "Eu avisei que essa operação tava muito agressiva", solta, olhando pra parede suja de marcas de sola de sapato. Ela se refere à Operação Verão, que desde dezembro já resultou em 47 mortes "em confronto" na região.
O comandante regional prometeu "apurar com rigor", mas os moradores já estão acostumados com esse roteiro. "No mês que vem tem carnaval, aí vem outra operação, e a história se repete", cuspira um vendedor ambulante, enquanto recolhe suas toalhas de praia manchadas de protetor solar.