
Era para ser mais um dia comum abastecendo o carro num posto de combustível em São José do Rio Preto. Mas o que deveria ser rotina virou pesadelo quando um simples detalhe no guarda-roupa da moça de 23 anos — um short considerado "curto demais" pelo companheiro — desencadeou uma cena de horror que deixou até os frentistas em choque.
"Ele me puxou pelos cabelos como se eu fosse um saco de batatas", conta a vítima, ainda tremendo ao lembrar. O episódio aconteceu na tarde de quarta-feira (14), mas as marcas — físicas e emocionais — vão demorar a sumir.
O estopim: "Isso não é roupa de mulher direita"
Segundo o relato à polícia, tudo começou com uma discussão banal no carro. O namorado, de 25 anos, teria ficado possesso ao vê-la de short e camiseta justa. "Você tá querendo aparecer pra quem?", disparou ele, conforme a moça reconstitui a cena com voz embargada.
Quando ela se recusou a voltar pra casa pra trocar de roupa (afinal, iam apenas abastecer), o clima esquentou:
- Primeiro veio o xingamento: "vadia", "piranha"
- Depois as ameaças: "vou te ensinar a ser mulher"
- Por fim, as mãos — ou melhor, os punhos cerrados
Testemunhas disseram à reportagem que o rapaz "parecia um touro enraivecido" quando arrastou a namorada pelo cabelo no meio do posto. Um frentista tentou intervir, mas levou um empurrão que quase o fez cair nos combustíveis.
O pano de fundo: controle disfarçado de cuidado
O que mais choca no depoimento é a naturalidade com que a vítima conta outros episódios similares. "Ele sempre diz que é pra me proteger", confessa, como se tentasse justificar o injustificável. Eis alguns "pecados" que já renderam broncas:
- Usar batom vermelho ("só puta usa")
- Conversar com o caixa do mercado ("tá dando mole")
- Postar foto de biquíni ("tá chamando atenção")
Psicólogos alertam: esse tipo de comportamento não é amor — é posse disfarçada. "Quando o parceiro vira o guarda-roupa da relação, o alerta vermelho deve acender", explica a Dra. Ana Lúcia, especialista em violência de gênero.
E agora, José?
O caso foi registrado na Delegacia da Mulher como lesão corporal. O agressor, que fugiu do local, ainda não foi encontrado. Enquanto isso, a moça — que prefere não se identificar — recebeu medida protetiva.
Mas será que dessa vez ela vai conseguir romper o ciclo? A pergunta fica no ar enquanto ela mexe nervosamente no celular, onde tem 17 mensagens não lidas do mesmo número. A última chegou há 20 minutos: "Você me fez perder a cabeça, mas foi por amor".
O posto, que tem câmeras, disponibilizou as imagens para a investigação. Enquanto a justiça não age, fica o alerta: relacionamento não é cela, e amor não dói — ou pelo menos não deveria.