MPMG capacita mais de mil profissionais de saúde para identificar vítimas de violência
Minas Gerais: programa do MP apoia mulheres vítimas de violência

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) deu um passo decisivo no combate à violência contra a mulher com a criação de um programa inovador. A iniciativa tem como foco principal capacitar profissionais da área da saúde para identificar, acolher e direcionar adequadamente vítimas que buscam atendimento. A ação surge da constatação de que unidades de saúde são, frequentemente, o primeiro local onde essas mulheres revelam ou demonstram os sinais da agressão.

Da dor pessoal à ação institucional

A urgência de medidas efetivas fica clara ao se conhecer histórias como a da advogada Verônica Suriami. Ela sobreviveu a um ataque brutal do ex-companheiro, que a atingiu com 19 facadas. "Ele sai correndo atrás de mim. Eu corro pela rua até ele me alcançar e me esfaquear. Eu achei que eu ia morrer, sim", relata Verônica, que hoje refez a vida enquanto o agressor cumpre pena. Infelizmente, muitas mulheres não têm o mesmo desfecho, tornando a intervenção precoce uma questão de vida ou morte.

Capacitação em massa para um olhar atento

O programa do MPMG parte do princípio de que os sinais de violência nem sempre são evidentes. Por isso, está treinando médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais que atuam em hospitais, postos de saúde, laboratórios e farmácias. Em apenas três meses, mais de mil profissionais já receberam a capacitação em todo o estado.

"O primeiro foco é que a equipe hospitalar esteja apta a identificar uma vítima de violência com as queixas que ela traz. E, identificado, que aquela informação circule com segurança e efetividade", explica a promotora de Justiça Denise Guerzoni, coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Violência contra a Mulher do MPMG. Ela destaca que a sequência de ações deve ser sempre: acolhimento, orientação e encaminhamento seguro para a rede de proteção.

Mudança de perspectiva nos hospitais

Um dos hospitais que já aderiu ao programa é o Hospital da Baleia, em Belo Horizonte, referência no atendimento à saúde da mulher. Setenta profissionais da unidade foram capacitados. Thais Bebiana, gerente de internação do hospital, ressalta a importância da sensibilidade da equipe. "O que mais nos chama atenção é a sensibilidade do profissional para ter esse olhar atento e acolhedor, para identificar possíveis situações", afirma.

Ela explica que, com o treinamento, foi possível estabelecer fluxos internos que garantem mais segurança à vítima e preservam o sigilo das informações. A enfermeira Aline Rocha, que trabalha no local há quatro anos, sente a diferença na prática. "Mudou bastante o nosso ponto de vista com relação aos pacientes, para poder identificar e também agir de forma correta o mais rápido possível", relata.

Para a promotora Giovanna Carone, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do MPMG, o atendimento precoce é transformador. "Se houver esse atendimento precoce dessa mulher, essa escuta, esse acolhimento e o direcionamento dela para a rede de proteção, ela vai ser melhor acolhida", defende. A iniciativa do Ministério Público mineiro representa um avanço concreto na construção de uma rede de apoio mais eficaz e humana, capaz de salvar vidas ao reconhecer, muitas vezes nos silêncios e nos olhares, o grito de socorro de mulheres em situação de violência.