
Dezenove anos se passaram desde que a Lei Maria da Penha entrou em vigor, e ainda assim o fantasma da subnotificação assombra as estatísticas de violência doméstica no país. Parece até piada de mau gosto, mas os números oficiais — já assustadores — podem ser só a ponta do iceberg.
O que os dados não contam
Segundo especialistas, para cada caso registrado, há pelo menos outros três que nunca chegam às autoridades. Mulheres ainda temem denunciar — seja por dependência financeira, medo de represálias ou simplesmente por não acreditarem no sistema. E quem pode culpá-las?
"É como se vivêssemos num filme de terror que nunca acaba", comenta uma vítima que preferiu não se identificar. Ela levou cinco anos para registrar a primeira queixa. Cinco. Anos.
Avances que não chegam a todos
Claro que houve progresso: delegacias especializadas, juizados específicos, medidas protetivas mais ágeis. Mas e nas periferias? E nas zonas rurais? A realidade é outra — e bem mais cruel.
- 70% das vítimas nunca procuraram ajuda
- 45% não conhecem detalhes da lei
- 60% das denúncias são retiradas depois
Não é só papel assinado que resolve. Precisa de orçamento, de capacitação, de uma mudança cultural que — convenhamos — está demorando demais para acontecer.
O desafio da próxima década
Enquanto isso, redes de apoio improvisadas tentam tapar buracos que o Estado deixa abertos. Grupos de WhatsApp, vizinhas solidárias, ONGs que operam no limite. Heroísmo cotidiano que não deveria ser necessário.
A pergunta que fica: quantos aniversários da lei ainda precisaremos comemorar antes que ela funcione de verdade para todas? Porque 19 anos já são muitos — e algumas vidas não podem esperar mais.