
Os números podem até surpreender, mas a realidade ainda dói: Santa Catarina registrou uma queda de 30% nos casos de feminicídio no primeiro semestre deste ano. Parece uma boa notícia, né? Só que não é bem assim. A violência contra a mulher continua batendo na porta de muitas casas, e o pior — muitas vezes, literalmente.
Segundo dados divulgados, foram 18 vítimas de feminicídio entre janeiro e junho, contra 26 no mesmo período do ano passado. Queda expressiva? Sim. Motivo para comemorar? Nem pensar. Especialistas esfregam os olhos nos números e dizem: "Cuidado com a falsa sensação de segurança".
Por trás dos números
O que esses dados não contam? Ah, muita coisa. A delegada Ana Lúcia, que trabalha diretamente com esses casos, solta o verbo: "A gente vê menos mortes, mas o volume de ameaças, agressões e humilhações não para de crescer". E completa, com a voz embargada: "Muitas mulheres ainda vivem em silêncio, engolindo o medo".
E tem mais — os casos que chegam às delegacias são só a ponta do iceberg. Quantas não denunciam por medo, por dependência financeira, ou pior, por achar que "isso é normal"? A psicóloga Mariana Costa bate na tecla: "A violência começa muito antes do primeiro tapa. Começa com um controle aqui, uma humilhação ali...".
O que está dando certo (e o que ainda falha)
- Mais delegacias especializadas: A abertura de novas DEAMs ajuda, mas ainda são poucas para cobrir todo o estado
- Botão do pânico: Dispositivo eletrônico tem salvado vidas, mas a demanda supera a oferta
- Falta de abrigos: Muitas mulheres voltam para o agressor por simplesmente não ter para onde ir
E você, acha que está seguro só porque os números caíram? Pense de novo. A realidade é que enquanto uma em cada três mulheres ainda relata ter sofrido violência, não temos motivos para baixar a guarda. Como diz aquela velha frase: "Estatística é número sem lágrima" — e nesse caso, as lágrimas ainda correm aos borbotões.
O caminho é longo, mas não impossível. Educação desde cedo nas escolas, mais políticas públicas eficientes e, principalmente, a coragem de denunciar. Porque no final das contas, nenhum número — por menor que seja — justifica uma única vida perdida.