Exposição 'Filhas de Medusa' em Santarém provoca reflexão sobre violência contra mulheres
Arte e resistência: exposição em Santarém discute violência feminina

Quem passa pelo Centro Cultural de Santarém nesta semana se depara com um convite à reflexão — e não é qualquer um. A exposição 'Filhas de Medusa', que abriu as portas no último sábado (10), transforma a dor em arte de um jeito que poucos imaginariam possível.

Inspirada na figura mitológica — aquela que transformava homens em pedra com o olhar —, a mostra reúne 15 instalações que misturam escultura, fotografia e até realidade aumentada. Nada daquela arte 'bonitinha pra enfeitar parede', como brincou uma das curadoras durante a abertura.

Gritos silenciosos

Logo na entrada, uma peça choca: um vestido branco suspenso, com fios vermelhos que escorrem até o chão. "Parece sangue, mas representa as histórias não contadas", explica a artista plástica Mariana Torres, que sobreviveu a um relacionamento abusivo. Ela trabalhou nessa obra durante meses, entre crises de ansiedade e noites sem dormir.

  • Dados da delegacia da mulher local mostram aumento de 27% nos casos em 2024
  • 70% das obras foram criadas por sobreviventes de violência
  • Interações com o público incluem "caixas de desabafo" anônimas

O que mais impressiona? Talvez seja o contraste. Enquanto algumas peças mostram a brutalidade crua — como a reprodução de uma sala de delegacia com manchas no chão —, outras trazem poesia na resistência. Uma escultura feita de fragmentos de espelhos quebrados forma, à distância, o rosto sorridente de uma mulher.

"Arte que cutuca"

"Não viemos aqui pra agradar", dispara a curadora Lúcia Mendes, enquanto ajusta uma instalação interativa. "Quando a pessoa sai com perguntas na cabeça e um nó na garganta, aí sim cumpriu seu papel." E parece estar funcionando — visitantes relatam desde lágrimas até vontade de ligar para a mãe ou irmã depois da experiência.

Entre os destaques:

  1. O "Mapa do Silêncio" — um painel tátil com depoimentos em braile
  2. A sala "Eco das Vozes", onde sussurros se multiplicam
  3. O jardim de "ervas da resistência" com plantas medicinais

Funcionando até 15 de setembro, a exposição tem entrada franca — mas pede doações de absorventes para um abrigo local. Porque afinal, como diz uma frase pintada na parede: "Solidariedade também é revolução".